Que arma sustentou o equilíbrio entre a lei e o caos nas planícies do Oeste? Imagina o brilho do aço ao amanhecer, o martelo a recuar com um clique seco e o tambor a girar até alinhar a carga com o cano: esses detalhes mecânicos e essa sensação de poder concentrado na mão fizeram do revólver a ferramenta definidora de uma era. Neste artigo descobrirás os tipos de revólver do Oeste, a sua evolução técnica, os modelos mais emblemáticos, como funcionam e o que os distingue. Aprenderás a reconhecer as características de um Colt Peacemaker face a um Schofield, compreenderás a transição da pólvora negra para a sem fumo e encontrarás uma comparação prática para reconhecer réplicas e modelos históricos.
Começaremos por situar a história: uma cronologia que conecta o pavio primitivo com o rugido metálico do Peacemaker. Depois exploraremos os primeiros revólveres, a sua classificação por mecanismo, calibres habituais, funcionamento e uma tabela comparativa dos modelos que dominaram o Velho Oeste. Finalmente abordaremos o seu legado técnico e cultural, e oferecer-te-ei diretrizes claras para identificar réplicas e características chave.
Do pavio ao Peacemaker: cronologia das armas do Velho Oeste
| Época | Evento |
|---|---|
| Finais da Idade Média / Séculos XIV–XV | |
| Finais do século XIV | Primeiros sistemas portáteis de fogo na Europa: canos de ferro acesos com pavio ou barra incandescente; pouca precisão e efeito mais psicológico que letal. |
| Séculos XV–XIX: evolução dos mecanismos de ignição (“chaves”) | |
| Séculos XV–XVII (Europa) / XVI–XIX (Ásia) | Chave de pavio (serpentina): alavanca que aproximava um pavio aceso da pólvora. |
| Séculos XVI–XVII | Chave de roda (origem alemã): gerava faíscas por fricção com pirite; dispendiosa e propensa a falhas. |
| Séculos XVI–XIX | Chave de pederneira ou sílex: uso prolongado. Aparecimento da snaphance (c.1540–1550) e da “chave à francesa” (inícios do Séc. XVII). Em Espanha, a “miquelete” (~1580) foi comum por quase 300 anos. |
| Inícios do século XIX: revolução do sistema de percussão | |
| c.1818 – décadas seguintes | Sistema de pistão/percussão: cápsula metálica com fulminato golpeada pelo martelo. França produz armas de pistão cerca de 1818; difusão em armas civis desde a segunda década do século XIX e militar cerca de 1840. |
| Meados do século XIX: antecessores e primeiras armas de repetição pessoal | |
| 1830–1860 | Pepperbox ou “avispeiros”: múltiplos canos giratórios (alguns modelos mecânicos), considerados precursores do revólver. Exemplo: pepperbox de Ethan Allen (~1840, Inglaterra). |
| 1835–1836 | Samuel Colt patenteia o seu revólver (1835 UK); funda Colt Patent Arms e lança o First Paterson (1836), revólver de ação simples calibre .36. |
| 1841–1845 | Desenvolvimento da percussão anular e cartuchos rimfire: patente em Inglaterra (Hanson & Golden, c.1841) e em França (Louis Flobert, 1845). |
| 1854–1858 | Sistemas de retrocarga e cartucho de agulha: Eugene Lefaucheux fabrica um revólver de agulha (1854); a marinha francesa adota-o em 1856 e o exército espanhol em 1858. |
| 1857 | Smith & Wesson lança um revólver calibre .22 de sete cartuchos (percussão anular), iniciando o seu papel em armas de bolso e de salão. |
| Guerra Civil e décadas seguintes: consolidação e variações | |
| 1861–1865 | Remington New Model Army: revólver popular durante a Guerra de Secessão. |
| 1866–1935 | Remington Double Derringer (dois canos sobrepostos, .41) fabricado; exemplo de pistolas de bolso amplamente usadas. |
| finais de 1860s – 1870s | Smith & Wesson Modelo 3 e variantes (American, Russian, Schofield) — design com dobradiça para carga rápida; Schofield preferido pela cavalaria e pistoleiros. |
| Finais do século XIX: ícones do Velho Oeste | |
| 1873 | Colt Single Action Army (SAA) “Peacemaker” introduzido; corpo maciço e uso de cartuchos metálicos (.45 Colt e outras opções como .44-40). Muito famoso embora caro e lento de recarregar. |
| 1875 | Remington Model 1875 (retrocarga) utilizado por personagens como Frank James. |
| c.1880 (inícios da década) | British Bulldog (Webley & Son) aparece e é profusamente copiado. |
| Últimas décadas do Séc. XIX – primeiro terço do Séc. XX | Garruchas brasileiras (cano duplo, cartucho central) inspiradas em Lefaucheux, populares no Brasil. |
| Evolução da cartucharia e pólvoras | |
| Segunda metade do Séc. XIX | Transição de pólvora negra para pólvora sem fumo; desenvolvimento de cartuchos mais potentes (.44-40 Winchester, .45 Colt) que aumentaram o poder de paragem e a limpeza do disparo. |
| Armas longas e a omnipresença da espingarda | |
| 1860–1866 | Espingarda Henry (New Haven Arms): uma das primeiras armas de repetição produzidas em massa. |
| 1873 | Winchester Modelo 1873: espingarda de alavanca icónica, disponível em calibres como .44-40; apelidada na cultura como “a arma que ganhou o Oeste”, embora dispendiosa (~$40 em 1877). |
| 1883 em diante | John M. Browning melhora os designs de alavanca Winchester, culminando no Modelo 1894, que seria uma das spingardas mais vendidas da história americana. |
| Século XIX (toda a centúria) | Espingardas (especialmente justapostas de calibre 10): arma económica e versátil, muito usada para caça, defesa de diligências e trabalho quotidiano; eficazes com bagos à curta distância. |
| Armas brancas: facas e navalhas | |
| Finais do Séc. XVIII – Séc. XIX | Facas tipo Bowie (mais de 18 cm) popularizadas por Jim Bowie; navalhas dobráveis de uso quotidiano e defesa, de origem ibérica e difusão global. |
| Legado cultural | |
| Século XX (cinema e literatura) | Filmes como “A Hora Solitária” e “Winchester 73” consolidam a imagem romântica do revólver e outras armas do Oeste. Estas peças tornam-se símbolos de individualismo, justiça fronteiriça e evolução tecnológica. |
| Resumo | |
| Resumo histórico | Desde canos rudimentares e chaves de pavio até revólveres de cartucho metálico e espingardas de alavanca, as inovações técnicas (percussão, cartuchos, pólvora sem fumo) configuraram as armas que definiram a sobrevivência e a cultura do Velho Oeste. |
As origens do revólver e os primeiros modelos

O revólver define-se por um canhão giratório — o tambor — que aloja as câmaras com a munição. Essa simplicidade mecânica resolveu uma necessidade crítica: mais disparos sem voltar a carregar imediatamente. Antes do revólver moderno houve experiências: os peppertboxes multicannos, os sistemas de agulha e finalmente a patente decisiva de Samuel Colt na década de 1830. Colt e outros artesãos transformaram um conceito numa arma fiável e repetível.
Como funcionam: mecânica essencial do tambor e do percutor
A mecânica do revólver é elegante na sua simplicidade. Quando o tambor está carregado, ao armar a arma (ou ao apertar o gatilho em ação dupla) o martelo recua. Esse movimento costuma fazer girar o tambor até alinhar uma câmara carregada com o cano. Ao libertar-se, o martelo impacta um percutor que golpeia o fulminante do cartucho e produz a ignição. O ciclo repete-se cada vez que disparas.
Vantagens históricas:
- Mais disparos disponíveis que as pistolas de um só tiro da época.
- Maior fiabilidade mecânica: menos partes móveis complexas comparadas com alguns sistemas de repetição iniciais.
- Simplicidade de manutenção no terreno.
Classificação por mecanismo: ação simples e dupla ação
De ação simples
Necessitam de armar manualmente com o polegar antes de apertar o gatilho. O disparo resulta num percurso do gatilho curto e um tiro mais consistente, por isso muitos atiradores experientes preferiam o controlo dos modelos de ação simples.
De ação dupla
Permitem disparar apertando o gatilho sem armar previamente. O percurso do gatilho é mais longo porque deve mover o martelo e libertar o percutor, mas oferecem rapidez em situações de defesa pessoal.
Modelos icónicos: tipos de revólver do Oeste e as suas características
Nem todos os revólveres do Oeste eram iguais. Alguns, como o Colt Single Action Army (Peacemaker), alcançaram status lendário; outros, como os Smith & Wesson Modelo 3 e os Remington, desempenharam papéis decisivos pela sua fiabilidade ou custo. A seguir, uma comparação prática para identificar as suas características chave.
| Modelo | Época | Calibre habitual | Características distintivas |
|---|---|---|---|
| Colt Single Action Army (SAA) “Peacemaker” | 1873 – finais do Séc. XIX | .45 Colt, .44-40 | Corpo maciço, tambor de 6 tiros, design robusto e muito presente no exército e civis; ícone cultural. |
| Colt Walker | 1847–1848 | .44–.45 aprox. | Muito potente, grande tamanho e peso; produção limitada e problemas iniciais de fiabilidade que depois foram melhorados nos Dragoons. |
| Colt Dragoon | 1848–1860s | .44 | Mais robusto que o Walker, orientado para a cavalaria; pesado com alta capacidade de paragem. |
| Smith & Wesson Modelo 3 / Schofield | finais de 1860s – 1870s | .44 Russian, .45 | Design com dobradiça ou “hinge frame” que facilita a recarga rápida; popular entre a cavalaria e forças que necessitavam de recarga veloz. |
| Remington New Model Army / 1875 | Guerra Civil – 1875 | .44, .45 | Construção sólida, sistemas de bloqueio diferentes do Colt; opção robusta e acessível para civis e militares. |
- Colt Single Action Army (SAA)
-
- Comprimento típico: 7.5–5.5 polegadas de cano segundo a versão
- Uso: exército, civis, rancheiros
- Distintivo: símbolo cultural do Oeste
- Smith & Wesson Schofield
-
- Comprimento típico: 4–5 polegadas de cano
- Uso: cavalaria e pistoleiros que necessitavam de recarga rápida
- Distintivo: dobradiça para abrir a estrutura
Calibres e o seu propósito: da defesa à caça
Os calibres que dominaram a cena do Oeste variaram consoante a função. Para defesa pessoal e uso policial emergente, calibres como o .38 Special e o .45 Long Colt ofereciam um equilíbrio entre recuo manejável e poder de paragem. Para caça e aplicações onde a energia cinética era prioritária, o .44 Magnum e o .357 Magnum —embora mais associados a épocas posteriores— fizeram o seu caminho graças à sua potência. A tradição do Oeste inclui, entre outros:
- .22 Rimfire (armas de bolso e tiro recreativo)
- .38 Special (defesa e tiro)
- .44-40 Winchester (comum pela sua interoperabilidade com espingardas Winchester)
- .45 Long Colt (.45 Colt: clássico do Peacemaker)
- .44 Magnum, .357 Magnum (potência para caça e tiro desportivo)

Rapidez de disparo e técnicas de recarga
O revólver melhorou radicalmente a cadência de fogo face às pistolas de um só tiro. Dois fatores que marcaram a diferença foram a capacidade do tambor e os métodos de recarga. Alguns modelos permitiam extrair e recarregar cartuchos individuais, outros usavam extratores mecânicos ou dobradiças que aceleravam o processo. Os Schofield foram apreciados pela sua recarga mais rápida a cavalo.
Recarga em combate: técnicas históricas
- Carga com cartuchos individuais pela parte frontal do tambor (em versões de retrocarga inicial)
- Uso de pás ou ferramentas para empurrar as cápsulas e facilitar a extração
- Recarga lateral com dobradiça (como no Schofield) que permitia uma recarga mais expedita sem desmontar a arma

Uso real vs mito: o que realmente aconteceu no Oeste
O cinema moldou a nossa visão: duelos ao amanhecer, seis disparos e lei instantânea. A realidade foi mais prosaica e variada. Os revólveres eram ferramentas de trabalho, defesa pessoal e símbolo social. Muitos colonos usavam armas mais baratas que os Colt e o acesso a espingardas de repetição era limitado pelo seu preço. A imagem romântica convive com o dado técnico: o Peacemaker foi influente, mas não exclusivo.
Réplicas, conservação e características para identificar um modelo histórico
Se procuras reconhecer uma réplica ou distinguir um original, repara em:
- Marcas e estampados: Colt, Smith & Wesson, Remington e outros costumavam marcar a arma com números de série e logotipos.
- Design da armação: corpos maciços, estruturas com dobradiça, extratores visíveis.
- Comprimento do cano e peso: afetam o equilíbrio e a ergonomia.
- Mecanismo de bloqueio: o sistema de bloqueio do tambor e o eixo de rotação fornecem pistas sobre o período.
Manutenção: olear regularmente o eixo do tambor, limpar a câmara e rever a mola do martelo garantem um funcionamento duradouro. A simplicidade do revólver manteve-o em uso por décadas precisamente por essa facilidade de manutenção.
Produtos e réplicas representativas
Ao longo dos anos, as réplicas permitiram conservar a memória material do Oeste. As reproduções modernas recriam detalhes estéticos e mecânicos para colecionadores e recreadores, mantendo à vista o pulso histórico.
Comparativa rápida: quando escolher cada tipo segundo o seu uso histórico
Se o teu interesse é histórico ou técnico, estas diretrizes ajudam-te a situar cada modelo:
- Colt SAA (Peacemaker): ícone militar e civil; equilíbrio entre potência e simbolismo cultural.
- Schofield / S&W Modelo 3: prioridade na recarga rápida; favorito da cavalaria e agentes móveis.
- Remington: robustez e preço, alternativa de uso massivo em civis.
- Walker / Dragoon: potência bruta, mais adequados para ambientes onde o tamanho e o peso não eram limitantes.
Tabela de identificação rápida
| Característica | Colt SAA | Schofield | Remington |
|---|---|---|---|
| Tipo de armação | Corpo maciço | Dobradiça para abrir | Armação sólida com extração distinta |
| Tempo de recarga | Médio | Rápido | Lento–Médio |
| Uso típico | Militar e civil | Cavalaria | Civis e exército |
Legado técnico e cultural
Os revólveres do Oeste deixaram a sua marca no design moderno de armas de fogo. As suas soluções mecânicas —como o tambor giratório e a simplicidade de acionamento— permanecem como lições de engenharia: robustez, manutenibilidade e eficácia em condições adversas. Culturalmente, a sua presença no cinema e na literatura consolidou arquétipos e símbolos que persistem hoje.
Entender os tipos de revólver do Oeste é mais do que reconhecer um modelo: é compreender como a técnica respondeu às necessidades de uma fronteira e como essas máquinas forjaram relatos. Desde a ferocidade do Colt Walker até à elegância compacta do Schofield, cada design conta uma história de uso, inovação e adaptação.
Agora que conheces as chaves —cronologia, mecanismos, calibres e características identificativas— podes olhar para uma réplica com olhos mais experientes: distinguir uma dobradiça Schofield, identificar as medidas de cano do Peacemaker ou valorizar por que certas munições eram preferidas no campo ou na cidade.
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