O que torna um sabre inglês lendário? Imagine a planície coberta pelo nevoeiro, um regimento a galopar e o brilho curvo de uma lâmina a rasgar o ar: os sabres ingleses nasceram para essa conjunção de velocidade, arte da forja e estratégia militar. Este artigo guia-o desde as origens e a estandardização até às réplicas modernas, com análise técnica, comparações e dicas de conservação, tudo para que perceba porque estes sabres marcaram uma era.

Evolução histórica dos sabres ingleses
A estandardização, a influência de oficiais visionários e a adaptação a distintos palcos bélicos transformaram os sabres ingleses em peças chave entre os séculos XVIII e XIX. De seguida, apresentamos uma cronologia detalhada que situa os marcos e modelos que definiram o seu design e uso.
| Época | Evento |
|---|---|
| Século XVII | |
| Uso tradicional | Os cavaleiros de cavalaria ingleses levavam os seus próprios sabres e equipamento para o combate. |
| Finais do século | Com a profissionalização dos exércitos, os regimentos começaram a fornecer armas aos soldados pagos e os governos estandardizaram o armamento através de contratos estatais. |
| Finais do Século XVIII (1780s–1790s) | |
| 1788 | A Junta de Oficiais Generais britânica estabeleceu padrões fixos para a cavalaria pesada e ligeira; primeira tentativa de estandardização com múltiplas variações.
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| Junho 1793–1795 | Campanha dos Países Baixos: o Major John Gaspard Le Marchant observou a superioridade austro-prussiana e impulsionou melhorias no treino e equipamento da cavalaria britânica. |
| 1793 (Espanha) | As “Ordenanzas Generales de la Armada Naval” proibiram espadas e fivelas não douradas para a Armada e Exército; não mencionavam sabres, embora fossem usados por oficiais em abordagens. |
| 1796 | Le Marchant publicou um manual de esgrima montada e contribuiu para a primeira academia militar britânica. Introduziu dois modelos chave:
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| 1798 | Primeira edição de “The Art of Defence on Foot with the Broad Sword and Sabre” de Charles Roworth, obra de referência para a esgrima de infantaria britânica. |
| Início do Século XIX (Era Napoleónica e pós‑Napoleónica) | |
| 1803 | Fabrico do Sabre Britânico Modelo 1803 para Oficial de Infantaria; produtores como Richard Johnston em Londres. |
| 1804 | Terceira edição de “The Art of Defence” de Roworth. |
| Maio 1807 | Pelo Tratado de Tilsit, o Reino Unido envia 6.000 sabres modelo 1796 para Colberg (Prússia) para armar húsares de Von Schill e Blücher. |
| 1811 | A Prússia copia o sabre britânico de 1796 e começa a fabricar o “modelo 1811” ou “sabre à Blücher”. |
| 1813 | A Grã-Bretanha envia 10.000 unidades adicionais de sabres modelo 1796 para a Prússia. |
| 1814 | Ramón de Salas afirma que a cavalaria espanhola emprega “espadas e sabres ingleses” de forma generalizada. |
| 1815 (Waterloo) | Em Waterloo defrontam-se sabres britânicos de 1796 e prussianos de 1811 (cópias dos ingleses) contra as forças napoleónicas. |
| 1817 | O filho de Henry Angelo Senior desenvolve o sistema oficial de espadas de infantaria britânico, baseado na obra do seu pai. |
| 1821 | Introdução dos Sabres de Cavalaria Padrão 1821 (pesada e ligeira) que substituem gradualmente os de 1796: padrão pesado (lâmina 905 mm) e ligeiro (aprox. 795 mm); modelos de oficiais mais leves e com lâminas tipo pipeback ou acanaladas. |
| 1824 | Quarta edição —considerada a mais completa— de “The Art of Defence on Foot with the Broad Sword and Sabre” de Roworth, publicada em Nova Iorque. |
| 1832 | Ángel Laborde (Chefe de Esquadra espanhol) ordena traduzir e publicar uma “Instrução para o exercício do sabre” baseada na Infantaria inglesa, sublinhando o manuseio de armas brancas em abordagens navais. |
| 1833–1840 | Guerra Carlista: modelos ingleses de 1796 chegam novamente a Espanha, adquiridos pelo governo espanhol. |
| Meados do Século XIX | |
| 1850 | Registos de produção nacional do sabre Modelo 1827 na Fábrica de Toledo, com lâminas datadas de 1850. |
| 1853 | Aprovação do sabre britânico “Enfield” (Padrão 1853) para a cavalaria britânica; lâmina de 900 mm. |
| 1853–1856 (Guerra da Crimeia) | Alguns húsares ainda usam o 1796P LC. O Padrão 1853, introduzido antes da guerra, foi usado por aproximadamente metade dos cavaleiros na Carga da Brigada Ligeira. |
| 1853–1866 (Espanha) | O “Diccionario Ilustrado de Artillería” denomina e ilustra o modelo 1796 de Cavalaria de linha como “Espada Inglesa”. |
| 1857 | O sabre de Oficial da Marinha modelo 1827 inglês generaliza-se e é regulamentar para certos oficiais da Armada espanhola; posteriormente denominado “modelo 1857” na tabela da Fábrica de Toledo (1871). |
| 1861–1865 (Guerra Civil Americana) | Grandes volumes do Padrão 1853 foram vendidos a Confederados e Unionistas; cutlasses navais britânicos superaram os do Sul. |
| Finais do Século XIX e Século XX | |
| 1864 | As guardas dos sabres Padrão 1853 são modificadas para designs de “bowl”. |
| Década de 1870 | Alguns regimentos continuaram a usar o Padrão 1853. |
| 1881 | O Brigadeiro Barrios confirma a regulamentação do sabre Modelo 1857 para determinados corpos de oficiais da Armada espanhola. |
| Início do Século XX | O sabre deixa de ser arma de combate principal e passa a ter um papel maioritariamente ceremonial em desfiles e tradições militares. |
| 1931 (Espanha) | Após a proclamação da República, a coroa real na guarnição do sabre “Md. 1857” é substituída por uma coroa mural. |
| Depois da Guerra Civil Espanhola (1936–1939) | Produz-se uma espada‑sabre para a Armada com lâmina modelo Puerto‑Seguro e uma coroa imperial sobre a âncora. |
Modelos chave e por que importam
Os modelos 1796 (ligeiro e pesado), o padrão 1821 e o Padrão 1853 marcam a evolução britânica: desde a aceitação da curva como vantagem para o cavaleiro até à procura de um equilíbrio entre corte e estocada. Estes designs influenciaram aliados e adversários, e o seu estudo ajuda a identificar peças originais e réplicas fiéis.
Comparativa técnica rápida
| Modelo | Comprimento lâmina (aprox.) | Curvatura | Uso preferencial |
|---|---|---|---|
| 1796 Cavalaria Ligeira | ~810–900 mm | Curva pronunciada | Cortes a partir do flanco do cavalo; polivalente para estocar ligeiramente |
| 1796 Cavalaria Pesada | ~940 mm | Menos curva, mais reta | Golpe contundente e estocada em formações |
| Padrão 1821 (ligeiro/pesado) | ~795 / 905 mm | Curvatura moderada | Compromisso entre corte e estocada; versões de oficiais mais polidas |
| Padrão 1853 (Enfield) | ~900 mm | Curvatura moderada | Design para contexto moderno e naval; equilíbrio funcional |
- 1796 Cavalaria Ligeira
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- Comprimento lâmina: ~810–900 mm
- Curvatura: pronunciada
- Uso tático: cortes eficazes a partir da sela do cavalo.
- 1796 Cavalaria Pesada
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- Comprimento lâmina: ~940 mm
- Curvatura: suave
- Uso tático: quebra de formações e estocadas.
Como reconhecer um sabre inglês autêntico ou uma réplica fiel
Identificar um sabre inglês requer observar a lâmina, a guarda, a empunhadura e a bainha. A lâmina costuma ser fabricada em aço carbono com sulcos em muitos padrões; a guarda varia de simples guardas a copas completas, dependendo do modelo e da data. As versões de oficiais apresentam frequentemente gravuras e melhores acabamentos.
Detalhes chave a inspecionar:
- Marca ou selo do fabricante: alguns fabricantes ingleses e continentalmente aceites deixam marcas datadas.
- Tipo de lâmina: acanalada (fuller) ou pipeback; a presença de fuller e o seu tratamento ajuda a identificar período e padrão.
- Empunhadura: madeira estriada e couro ou empunhaduras com arame; os oficiais normalmente têm empunhaduras mais ornamentadas.
- Bainha: ferro ou couro reforçado com pontas de latão, dependendo da época.

Aqui insiro uma réplica histórica para que visualize as proporções:
Fabrico e materiais: o que fez perdurar estes sabres
O ofício do cuteleiro na Grã-Bretanha combinou tradição e adaptação tecnológica. Embora muitas lâminas fossem de aço carbono, a forja, têmpera e revenido determinavam a flexibilidade e o fio. O aço com alto conteúdo de carbono que se menciona em numerosos catálogos atuais reproduz essa aparência e comportamento.
Elementos da construção:
- Aço carbono: confere dureza ao fio e maleabilidade durante a têmpera; exige manutenção para evitar corrosão.
- Guardas e suportes: latão, ferro ou aço, desenhadas para proteger a mão ou para facilitar o uso rápido na montada.
- Bainhas: couro com reforços metálicos ou bainhas completamente metálicas; as pontas de latão eram comuns e decorativas, além de práticas.

Tática e técnica: o uso do sabre em combate montado
O sabre é, por excelência, a arma do cavaleiro. A sua curvatura é pensada para transformar a inércia em corte limpo; o comprimento permite manter distância ou golpear da cauda do cavalo sem perder controlo. Manuais da época e tratados de esgrima estabeleceram exercícios e ataques que otimizavam a vantagem da montada.
- Golpe de talho: aproveitando a trajetória do cavalo para multiplicar a força.
- Estocada curta: em modelos com ponta de lança procurava-se penetrar no alvo vulnerável.
- Defesa com guarda: as guardas fechadas protegiam do contra-ataque e permitiam recuperar a posição com rapidez.
A técnica evoluiu de acordo com o palco: em planícies europeias favorecia o corte a galope; em espaços fechados ou navais, predominavam sabres mais curtos e manobráveis.
Réplicas, conservação e colecionismo
Hoje, os sabres ingleses são reencontrados como réplicas para recriação histórica, práticas de esgrima histórica e colecionismo. Uma réplica bem feita respeita dimensões, curvatura e acabamentos, e usa materiais que emulam a sensação do original.
Dicas para conservar réplicas e peças históricas:
- Limpeza regular: limpar o fio com óleo protetor após cada manipulação e eliminar vestígios de humidade.
- Armazenamento: evitar humidade e contacto prolongado com couro em mau estado; usar suportes que não deformem a lâmina.
- Restauro mínimo: procurar especialistas para qualquer reparação; conservar pátinas históricas quando pertencem a peças autênticas.
Comparativa para colecionadores
| Aspeto | Peça histórica | Réplica moderna |
|---|---|---|
| Material | Aço forjado com tratamentos históricos | Aço carbono ou aço inoxidável temperado, dependendo da finalidade |
| Detalhes | Gravuras e pátinas originais | Acabamentos decorativos; alguns modelos reproduzem gravuras |
| Uso | Decorativo/coleção, ocasionalmente funcional | Recriação, prática de artes marciais históricas, exposição |
- Peça histórica
-
- Material: aço forjado
- Função: original de combate e valor histórico
- Réplica moderna
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- Material: aço carbono ou inoxidável
- Função: prática e estética
Como escolher uma réplica ou peça para a sua coleção
Escolha de acordo com a finalidade: exibição, prática ou estudo. Priorize a fidelidade dimensional para práticas históricas e a qualidade da têmpera se a usar em exercícios. Evite peças com corrosão extensa ou modificações que alterem a integridade estrutural.
Se procura especificidade, identifique o padrão (1796, 1821, 1853) e compare comprimentos e curvaturas. As descrições técnicas e selos são o seu melhor guia. Em muitos catálogos modernos encontrará indicações do fabricante e da composição—utilize-as para comparar.
Recursos para aprofundar
Livros da época, manuais de esgrima e catálogos de fabricantes históricos oferecem a base documental para entender o design e uso dos sabres ingleses. Também os tratados militares e os inventários de arsenais facilitam rastrear como as peças viajaram e se adaptaram a outros exércitos.
Depois de ter revisto história, técnica e conservação, deixo-lhe um conjunto de réplicas selecionadas e categorias relacionadas para que explore em detalhe:
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Os sabres ingleses são mais do que ferramentas de guerra: são peças de engenharia, tradição e estética. Conhecer a sua evolução, distinguir os padrões e preservar réplicas ou originais conecta-o com uma história de técnica e bravura que ainda ressoa. Se aprecia o artesanato e a história, estudar estes sabres dar-lhe-á chaves para entender não só a guerra, mas também a cultura material de uma época que continua a inspirar.







