O aço do sabre que navegou com os ventos do império
O que contam os sabres que acompanharam a Marinha Espanhola ao longo dos séculos? Mais do que um instrumento, o sabre é um fio que une táticas, cerimónias e uma identidade naval forjada no mar. Neste artigo, irá percorrer a sua evolução, reconhecer os seus modelos mais relevantes, entender por que se tornou um emblema e aprender a distinguir detalhes que falam de época e função.
Eu levarei você desde os primeiros espadins dourados até os sabres regulamentares do século XIX, passando por mudanças simbólicas e técnicas que transformaram uma arma em um sinal de autoridade e tradição.

Cronologia e aspetos destacados dos sabres na Marinha Espanhola
| Época | Evento |
|---|---|
| Século XVIII — Início das espadas de oficial | |
| Primeira metade e segunda metade do Séc. XVIII | Os oficiais não tinham um modelo regulamentar único; os punhos deviam ser de metal dourado. Uso de dois tipos principais de espadins com punhos de latão dourado, um comum e outro com guarnição em forma de barquinha com vela e Armas Reais sobre âncoras cruzadas. |
| 1793 | As “Ordenações Gerais da Armada Naval” proibiram espadas ou fivelas que não fossem douradas, sugerindo modelos pré-estabelecidos, embora sem documentação encontrada. |
| Finais do Séc. XVIII — Inícios do Séc. XIX — Necessidade do sabre e influências externas | |
| Finais do Séc. XVIII — inícios do Séc. XIX | Os espadins demonstraram pouca eficácia em abordagens e desembarques; os oficiais começaram a substituí-los por sabres, apesar da falta de disposição oficial. Influência de modelos ingleses e franceses; popularização do sabre na Europa desde 1705. |
| 1832 | O Chefe de Esquadra Ángel Laborde mandou traduzir e publicar a instrução de exercício do sabre da Infantaria inglesa, reconhecendo sua importância em combate. |
| Meados do Séc. XIX — Padronização e Modelo 1857 | |
| 1827–1850 | Generaliza-se o modelo inglês de 1827; produção na Fábrica de Toledo desde 1850, idêntica ao inglês, exceto a coroa real sobre a âncora. |
| 1857 | Criação do Corpo de Estado-Maior de Artilharia da Armada e aprovação de um novo sabre “1857” com copo vazado decorado com duas âncoras cruzadas sob coroa real. A guarnição do “Md. 1857” torna-se um design naval duradouro. |
| 1871 | A tarifa da Fábrica de Toledo publica oficialmente o “modelo 1857”. |
| Segunda metade do Séc. XIX — Sabres de outros corpos e evolução de modelos | |
| 1827–1859 | Possível introdução em Espanha do modelo inglês de Oficial de Infantaria de 1822; mais tarde conhecido como “Sabre de Oficial de Infantaria Naval, Md. 1859” com Armas Reais no copo. |
| Década de 1840 — 1890 | Evolução dos sabres de abordagem: início com punho tipo inglês, depois modelo com copo assimétrico e lâmina curva (c.1840), e um terceiro modelo semelhante ao inglês de 1845 com copo simétrico (década de 1890). |
| 1881 | O brigadeiro Barrios declarou que o sabre de Oficial de Marinha era regulamentar para vários corpos, excluindo a Infantaria Naval, que usava a espada de cinto “Md. 1869”. |
| Inícios do Séc. XX e primeiras décadas — Regulamentações e uso em campanhas | |
| 11 de outubro de 1901 | Ordem Real que estabeleceu que a bainha teria uma única argola. |
| Campanhas de Marrocos (inícios do Séc. XX) | As campanhas de Marrocos foram as últimas em Espanha onde o sabre foi empregado em combate. |
| 1914–1918 | A Grande Guerra foi o último episódio de uso do sabre em combate na Europa. |
| 1931–pós-guerra — Símbolos e design: coroa mural, Porto Seguro e imperialização | |
| 1931 | Após a proclamação da República, a coroa real na guarnição do sabre foi substituída por uma coroa mural. |
| 1936–1939 e anos 40–50 | Depois da Guerra Civil, o sabre foi fabricado como uma “espada-sabre” com a lâmina do modelo Porto Seguro (lâmina reta) e a coroa sobre a âncora passou a ser imperial; o modelo Porto Seguro popularizou-se nos anos 50. |
| Distinções de posto e peças finais | |
| Mestres e oficiais | Os mestres tiveram um sabre semelhante ao de oficiais, mas com peças metálicas do punho e bainha em metal branco niquelado para se diferenciarem. |
De espadins dourados ao sabre regulamentar: por que mudou a lâmina
A história técnica do sabre é também a história do combate no mar. Os espadins do século XVIII foram substituídos por sabres porque a curva, o contra-fio e o comprimento davam vantagem em abordagens e manobras rápidas. O combate naval exigia uma arma que cortasse de ângulos incomuns e que seguisse a pulsação do abordador, não apenas a postura cerimoniosa de uma espada reta.
A influência estrangeira foi decisiva: modelos ingleses e franceses introduziram formas e guarnições que a Marinha Espanhola logo adaptou. A decisão de adotar um modelo único surgiu da necessidade de uniformidade e de uma estética que projetasse autoridade tanto no convés quanto em atos de gala.
Características técnicas e simbólicas
Lâmina e geometria
As lâminas transitaram entre retas e curvas de acordo com a função. A lâmina curva com contra-fio era ideal para corte e desembainhar rápido; a lâmina reta apareceu em versões híbridas chamadas “espada-sabre”, buscando maior versatilidade e ponta eficaz. As lâminas são geralmente de aço temperado, polidas e com gravuras que identificam fabricante, marca ou regulamentação.
Guarnição e emblemas
A guarnição é o selo visual do sabre: copos vazados, motivos de âncoras cruzadas, coroas e motivos reais ou estatais. Estes símbolos mudaram com as flutuações políticas: coroa real, coroa mural e mais tarde a coroa imperial, cada uma marcando um período.
Modelos emblemáticos e seus usos
Ao longo do século XIX impôs-se o denominado “Md. 1857”, uma guarnição cujo design perdurou como estandarte naval. Mas a Marinha não foi monolítica: diferentes corpos adotaram variantes segundo a função: artilharia, engenheiros e marinharia tiveram sabres com detalhes próprios. O uso cerimonial consolidou detalhes ornamentais sem sacrificar caraterísticas funcionais herdadas do combate.
Sabre de Oficial da Marinha (Md. 1857)
Identidade: copo vazado com âncoras e coroa; lâmina curva nos primeiros modelos, mais reta em adaptações posteriores. Função: arma regulamentar e distintiva de posto.
Sabres de abordagem e modelos especializados
Os sabres de abordagem eram mais robustos e projetados para o combate corpo a corpo. Suas guarnições e lâminas respondiam à necessidade de manobra dentro da estreiteza de um convés; por isso, a ergonomia do punho e a proteção da mão foram prioritárias.
Fabrico e tradição toledana
Toledo tem sido sinónimo de forja espanhola desde tempos imemoriais. A produção de sabres para a Marinha seguiu essa tradição: aços específicos, processos de tempera e acabamentos dourados ou niquelados nos punhos. O artesanato combina precisão técnica com uma estética que deve respeitar regulamentações militares.
Os fabricantes históricos combinaram padrões estrangeiros com iconografia nacional: um copo vazado com âncoras, coroas e remates que servem para identificar época e função.
Modelos e réplicas contemporâneas
Hoje existem réplicas fiéis e adaptações modernas que procuram reproduzir a aparência do sabre regulamentar ou oferecer variantes pensadas para exibição ou cerimónia. Estas peças respeitam a silhueta e os símbolos históricos, mas muitas vezes empregam ligas e processos modernos para garantir durabilidade e facilidade de manutenção.
Ao contemplar uma réplica, observe detalhes como a forma do copo, a decoração do cabo e o acabamento: esses traços denunciam se o modelo segue padrões do Md. 1857, de abordagem ou de época posterior.
Tabela comparativa: modelos históricos e réplicas
| Modelo | Época | Características | Uso |
|---|---|---|---|
| Espadim de latão dourado | Século XVIII | Punho dourado, lâmina curta | Uniforme e distinção |
| Sabre de abordagem (copo assimétrico) | c.1840 | Lâmina curva, copo protetor assimétrico | Combate a bordo |
| Md. 1857 | Meados do Séc. XIX | Copo vazado com âncoras e coroa, lâmina curva/reta | Regulamentar oficial |
| Espada-sabre Puerto Seguro | Século XX (pós-guerra) | Lâmina reta, design híbrido | Cerimonial e uso regulamentar adaptado |
Como identificar caraterísticas de autenticidade e época
Identificar um sabre pela sua época requer atenção a sinais reveladores: o tipo de coroa na guarnição, a anatomia do copo, marcas do fabricante e o tipo de aço. A coroa real, a coroa mural ou a coroa imperial são pistas diretas de periodização. Também a presença de gravuras na lâmina com datas ou marcas de fábrica é determinante.
Preste atenção à técnica de acabamento: as gravuras a ácido ou as peças douradas indicam procedimentos tradicionais; o niquelado e os acabamentos mais polidos apontam para processos industriais modernos.
Lista breve para identificação
- Coroa e emblemas: Qual é a coroa representada?
- Forma do copo: Vazado ou maciço? Simétrico ou assimétrico?
- Acabamento do cabo: Latão dourado, niquelado ou prateado?
- Marca na lâmina: Selos ou datas do fabricante?
O sabre na cerimónia e no uniforme: mais do que ornamentação
Embora hoje a sua presença seja maioritariamente cerimonial, o sabre continua a representar hierarquia, disciplina e tradição. Nos atos oficiais é um símbolo tangível do dever e do vínculo entre a marinharia e a sua história. A sua presença na indumentária não é caprichosa: cada detalhe reivindica uma cadeia de comando e uma memória militar.
Protocolo básico
- O sabre é usado com o uniforme de gala e em manobras cerimoniais.
- A sua postura, entrega e porte respondem a normas de protocolo que preservam a dignidade do uniforme.
Manutenção, conservação e transporte seguro
Embora muitas réplicas não sejam armas letais, conservar um sabre implica respeitar materiais e acabamentos. Limpeza periódica da lâmina com panos adequados, proteção contra a humidade e controlo da bainha são essenciais. Evite produtos abrasivos que danifiquem dourados e gravuras.
Para o transporte, utilize capas acolchoadas e sistemas que segurem a peça sem esfregar a guarnição. A conservação preventiva evita corrosão e desgaste de ornamentações delicadas.
O relato que a Marinha conserva em aço
Os sabres são testemunhas de uma história que mistura estratégia e cerimonial. Cada modelo ressoa com gestos de disciplina, com manobras resolutas e com mudanças políticas que se gravaram na metalurgia da arma. Desde a decisão prática de substituir espadins por sabres, até a padronização do Md. 1857, a evolução responde a necessidades táticas e à vontade de projetar um símbolo.
Esse relato não é estático: cada substituição de coroa, cada variação de lâmina, é um capítulo onde a Marinha mostrou adaptabilidade sem perder uma estética que fala de mar e dever.
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