Por que um simples disco de metal mudou para sempre o manuseamento da espada medieval? O pomo de disco não é apenas um adorno: é a contraface invisível da lâmina, o contrapeso que transforma uma barra de aço numa extensão ágil da mão. Neste artigo descobrirá como nasceu o pomo de disco, por que os ferreiros o escolheram repetidamente, como afeta o equilíbrio e o que deve saber se lhe interessa reproduzir ou entender réplicas históricas.
O que é exatamente um pomo de disco e por que importa
Um pomo é a peça localizada na extremidade do punho, sua função primária é contrariar a massa da lâmina, movendo o ponto de equilíbrio em direção à mão. Quando falamos de pomo de disco referimo-nos a uma forma circular e achatada, também chamada lenticular ou de roda, que pode ser simples ou ricamente decorada. O seu perfil compacto e a sua capacidade de concentrar peso no eixo do punho tornaram-no uma escolha recorrente na tradição europeia.
Funções práticas do pomo de disco
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Equilíbrio: Ajusta o centro de gravidade, facilitando cortes e estocadas precisas.
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Contrapeso: Permite que a espada responda com rapidez às mudanças de direção.
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Proteção e remate: Em combate cerrado pode ser usado para golpear; também protege a espiga e a extremidade do punho.
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Valor simbólico e decorativo: Insígnias, gravuras e esmaltes convertiam o pomo em elemento identificador do portador.
A roda e o disco: evolução do pomo na espada medieval
Insira esta cronologia para entender a longa vigência do design: desde o início na Europa medieval até à sua consolidação nos séculos XIII–XV, o pomo de disco acompanhou a transformação da espada para a arma de cavalaria e para a peça taticamente versátil que conhecemos.
| Época | Evento |
|---|---|
| Alta Idade Média (Séculos IX – XII) | |
| c. Séculos IX–X | Popularização e origem: as espadas com pomo de disco (espadas de estilo viking) começam a impor-se pela sua funcionalidade e estética. |
| Séculos X–XI | Influência latina e aparecimento do pomo de roda: nos países latinos documenta-se a forma de disco/lenticular ou plana; o pomo de roda torna-se mais frequente a partir do século XI. |
| c. Séculos X–XII | Espadas normando‑vikings: o pomo de roda é distintivo nas espadas da época normanda. |
| c. 900–1130 | Tipologia Oakeshott Tipo X: espadas tardo‑vikings e de transição para a espada de cavaleiro que costumam empregar pomos de disco ou formas associadas (A, B, G, H, I, J, K, M). |
| c. Séculos XI–XIII | Espadas de cavalaria: nos reinos cristãos da Península Ibérica e outros territórios, o pomo em forma de disco torna-se frequente; o pomo tipo H aparece amplamente entre os séculos X e XV. |
| Plena e Baixa Idade Média (Séculos XIII – XVI) | |
| Séculos XIII–XV | Predomínio: o pomo de roda/disco predomina na espada medieval durante os séculos XIII ao XV, especialmente em contextos cavalheirescos latinos. |
| c. 1080–1350 | Tipologia Oakeshott Tipo XII: muito comum; podia apresentar vários tipos de pomo, sendo frequente o Tipo I (disco com bordos chanfrados largos). |
| c. 1250–1350 | Tipologia Oakeshott Tipo XIII: punhos datados da segunda metade do século XIII que aparecem frequentemente com pomos em forma de disco (Tipos D, E e I). |
| c. 1270–1340 | Tipologia Oakeshott Tipo XIV: na sua curta vida útil estas espadas apresentam pomos sempre de roda; o mais comum é o Tipo K, uma variante larga e plana de disco. |
| c. Séculos XIV–XVI | Continuidade e especialização: as formas de pomo de disco/roda (G, H, I, J, K) continuam a ser habituais em espadas destinadas tanto ao corte como à estocada. Exemplos tipológicos tardios:
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| Resumo | |
| Introdução e longevidade | O pomo de disco/roda é introduzido e popularizado desde os séculos IX–X e permanece como uma das formas predominantes na espada medieval latina durante os séculos XIII–XV, com uma ampla diversidade tipológica que perdura até ao período tardo‑medieval. |
Tipologia segundo Oakeshott: onde o pomo de disco se encaixa
Ewart Oakeshott ofereceu uma classificação que continua a ser referência. As letras (G, H, I, J, K, M…) descrevem não só a forma da lâmina mas também a configuração do punho e do pomo. O pomo de disco aparece em muitas categorias, adaptando-se a distintos perfis de lâmina e guardas.
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Tipos G e H: discos com bordos relativamente planos ou chanfrados, frequentes em espadas de cavalaria.
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Tipo I: disco mais robusto, por vezes com rebordo marcado, útil para lâminas que requerem maior contrapeso.
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Tipo K: disco largo e plano, característico em alguns exemplares da Baixa Idade Média.
Exemplos visuais e como reconhecê-los
Identificar um pomo de disco implica observar:
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Perfil lateral: é plano, lenticular ou com bordo chanfrado?
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Fixação: rebitado, com rosca ou por meio de espiga passante?
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Decoração: gravuras, esmaltes ou aplicações metálicas que fornecem contexto cronológico.
Materiais, técnicas de fabricação e decoração
Os materiais e processos marcam a diferença entre um pomo funcional, uma réplica fiel e uma peça meramente decorativa. Ao longo da história e na reprodução moderna empregam-se diversas soluções.
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Metais: ferro, aço, latão e bronze são habituais. O ferro e o aço dão robustez; o latão e o bronze oferecem fácil decoração e pátina.
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Madeiras e materiais orgânicos: madeira, osso, marfim (histórico) e materiais compostos são usados para revestimentos ou pomos completos em peças não bélicas.
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Agrupamentos modernos: ligas e revestimentos (niquelados, brunidos) são aplicados para reproduzir aparência sem sacrificar resistência.
| Material | Vantagens | Desvantagens | Uso recomendado |
|---|---|---|---|
| Aço forjado | Alta resistência, equilibrado | Mais pesado, exige tratamento anticorrosão | Réplicas funcionais e reconstruções históricas |
| Ferro com revestimento | Historicamente verosímil, económico | Oxida se não for protegido | Peças de exposição e uso ligeiro |
| Latão/bronze | Fácil decoração, estética quente | Mais macio, desgasta-se | Pomos decorativos e réplicas ornamentais |
| Madeira revestida | Leve, confortável ao toque | Sensível à humidade | Recreação e peças não combativas |
| Materiais modernos (ligas, EVA) | Leveza, custo contido | Menos autenticidade histórica | Softcombat e recreação segura |
Como o pomo de disco influencia o equilíbrio e o manuseamento
O design do pomo determina o ponto de equilíbrio (PoB) e a sensação na mão. Um disco de maior massa leva o PoB em direção ao punho, permitindo manobras mais rápidas e controladas. Um pomo demasiado leve desequilibra a espada em direção à ponta, o que favorece cortes contundentes mas penaliza a rapidez de recuperação.
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Ponto de equilíbrio ideal: para a maioria das espadas de uma mão costuma situar-se entre 7 e 13 cm da guarda em direção à lâmina; o pomo contribui para levar esse centro mais perto da mão.
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Peso típico do pomo: Pomos históricos e réplicas funcionais costumam oscilar entre 170 e 225 gramas, embora haja exceções dependendo do design da lâmina e do uso previsto.
Teste prático para ajustar o pomo
Se dispõe de uma réplica ou de uma espada restaurada, detete o PoB: apoie a espada num dedo sob a guarda e meça a distância até à lâmina. Se sentir que a espada se torna lenta na recuperação, considere adicionar massa ao pomo (insertos, disco maior). Se a espada responde como mola para a frente, reduza a massa ou use um pomo mais pequeno.
Montagem e sistemas de fixação: rebites, espiga e roscas
A fixação do pomo condiciona a sua praticidade e autenticidade. Historicamente usaram-se diversos métodos:
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Espiga passante e rebite: a espiga atravessa o punho e é rebitada no pomo; sistema sólido e tradicional.
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Placas e rebites laterais: frequentes em pomos lobulados e vikings, permitem desmontagem parcial.
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Rosca moderna: facilita a desmontagem e manutenção, usada em réplicas contemporâneas.
Técnicas de restauração e manutenção do pomo de disco
Manter um pomo em bom estado conserva tanto a funcionalidade como a estética. As recomendações práticas variam consoante o material:
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Metais: limpeza com óleo mineral ou óleo de camélia para prevenir corrosão; evitar abrasivos fortes que eliminem pátinas históricas.
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Madeira e materiais orgânicos: tratamento com ceras ou óleos naturais para evitar ressecamento e rachas.
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Decorações e esmaltes: limpeza suave com panos e restauradores profissionais em casos de peças valiosas.
| Tipo de óleo | Características principais | Uso recomendado |
|---|---|---|
| Óleo mineral | Alta penetração, não se degrada nem atrai sujidade | Proteção regular e manutenção |
| Óleo de camélia | Natural, livre de ácidos, não volátil | Proteção antioxidante, lubrificação |
| Massa lubrificante de lítio | Densa, duradoura, não se evapora | Armazenamento prolongado, proteção |
Comparativa prática: escolher um pomo de disco segundo o uso
A escolha depende se procura autenticidade histórica, recriação funcional ou um objeto decorativo. A seguir, uma tabela comparativa que resume os critérios chave.
| Critério | Réplica funcional | Decorativa | Recreação segura (softcombat) |
|---|---|---|---|
| Material | Aço/Ferro | Latão/Madeira | Ligas leves/EVA |
| Peso do pomo | 170–225 g | Leve | Muito leve |
| Sistema de fixação | Espiga passante e rebite | Rosca ou montagem | Rosca ou rebites seguros |
| Decoração | Contida, funcional | Elaborada | Resistente e segura |
Aspetos de design que marcam a diferença
Ao reproduzir ou avaliar um pomo de disco tenha em conta detalhes que podem parecer menores mas que definem autenticidade e uso:
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Chanfro do bordo: um bordo chanfrado reduz pontos de impacto e confere estilo.
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Relevo e gravura: heráldica, motivos florais ou inscrições oferecem pistas cronológicas.
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Diâmetro: discos muito pequenos contribuem com menos contrapeso; discos largos e planos aumentam a massa sem aumentar o volume excessivo.
Guia para fabricantes e artesãos
Para o artesão que pretende reproduzir um pomo de disco historicamente coerente, estes passos são essenciais:
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Estudo tipológico: determinar a tipologia Oakeshott e a época de referência.
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Seleção de material: optar por aço para funcionalidade, latão ou bronze para estética, madeira para peças leves.
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Teste de equilíbrio: ajustar massa e diâmetro até situar o PoB no intervalo desejado.
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Fixação: decidir entre espiga passante rebitada ou roscada consoante o uso e manutenção previstos.
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Acabamento: aplicar pátinas, polimentos ou revestimentos protetores compatíveis com o material.
Esclarecemos dúvidas sobre pomos e espadas
Quais são as diferenças principais entre os pomos de disco e os pomos de noz-do-brasil?
As diferenças principais entre os pomos de disco e os pomos de noz-do-brasil são:
- Forma e design: Os pomos de disco têm uma forma circular e plana, parecida com um disco, enquanto os pomos de noz-do-brasil costumam ter uma forma alongada e maior, semelhante à semente da noz-do-brasil.
- Material e textura: Os pomos de noz-do-brasil geralmente são feitos da casca ou do material da noz natural, por isso têm uma textura e aparência orgânica, enquanto os pomos de disco costumam ser fabricados em materiais metálicos ou plásticos com acabamento liso ou decorativo.
- Uso e aplicação: Os pomos de disco são comuns em móveis e portas onde se busca um design minimalista e funcional, enquanto os pomos de noz-do-brasil são valorizados por um toque natural ou rústico e frequentemente são usados em peças artesanais ou decorativas.
Estas diferenças refletem principalmente a forma, materialidade e estilo entre ambos os tipos de pomo.
Que materiais são comumente utilizados para fabricar os pomos de espadas?
Os materiais comumente utilizados para fabricar os pomos de espadas são madeira, metal (como latão ou bronze), marfim e osso. Estes materiais são escolhidos tanto pela sua função estética como prática, já que o pomo ajuda a equilibrar a espada e pode servir como arma secundária em combate.
Além disso, em sistemas mais modernos ou em espadas não funcionais ou decorativas, também se empregam materiais como EVA (um tipo de borracha densa) para revestir ou fabricar pomos mais leves e resistentes a golpes, especialmente em espadas para recreação ou softcombat.
Como o design do pomo influencia o equilíbrio de uma espada?
O design do pomo influencia o equilíbrio de uma espada principalmente porque o seu peso contraria o da lâmina, movendo o ponto de equilíbrio em direção à mão do utilizador. Um pomo mais pesado aproxima o ponto de equilíbrio do punho, facilitando o manuseamento e controlo da espada com menos esforço. Por isso, ajustando o peso do pomo, pode-se compensar o peso e a forma da lâmina para conseguir um equilíbrio ótimo para o estilo de uso desejado.
Um pomo típico costuma pesar entre 170 e 225 gramas para a maioria das espadas, equilibrando a espada num ponto localizado geralmente entre três e cinco polegadas acima da guarda. Se o pomo for demasiado pesado, pode afetar a resistência da espada e gerar problemas como vibrações; se for muito leve, a lâmina pode parecer pesada e difícil de manusear. Assim, o design e o peso do pomo cumprem uma função vital para que a espada seja funcional, manobrável e eficiente em combate.
Que tipos de espadas costumam ter pomos decorativos?
Os tipos de espadas que costumam ter pomos decorativos são principalmente as espadas decorativas inspiradas em modelos históricos ou lendários, como as espadas de cavaleiros templários, a espada do Santo Sepulcro e espadas baseadas em figuras históricas como Godofredo de Bulhão. Estas espadas decorativas frequentemente apresentam pomos com formas simbólicas, como cruzes templárias ou símbolos religiosos, e designs elaborados que enfatizam o seu valor ornamental.
Além disso, segundo a tipologia de Oakeshott, os pomos decorativos podem apresentar várias formas clássicas e estilizadas, como pomos em forma de noz-do-brasil, discos planos ou com bordos chanfrados, e variantes com adornos florais ou em forma de concha, utilizados em espadas europeias desde a Idade Média. Estes pomos não só cumprem uma função prática, como também são elementos chave na decoração e estética da arma.
Em resumo, as espadas medievais europeias (como as de cavaleiros templários ou relacionadas com ordens religiosas) e as suas réplicas decorativas são as que mais comumente apresentam pomos decorativos elaborados e simbólicos. Também existem diferentes estilos de pomos segundo a tipologia histórica que servem para decorar distintos tipos de espadas europeias tradicionais.
Qual é a história e origem dos pomos de disco nas espadas?
Os pomos de disco nas espadas têm a sua origem nas espadas vikings, que por sua vez herdaram elementos das espadas celtas. Estas espadas vikings apresentavam um pomo característico lobulado que era fixado à espiga mediante um sistema não convencional com placas rebitadas, facilitando ademais a substituição do pomo sem encurtar o punho. Inicialmente, os pomos eram simples contrapesos em forma de disco ou esfera, a sua função principal era equilibrar a espada. Com o tempo, os pomos evoluíram desde formas básicas para designs mais elaborados, acompanhando a evolução dos punhos e da técnica na esgrima medieval. Assim, o pomo passou a ser também um elemento decorativo e funcional dentro do conjunto do punho. Esta evolução consolidou-se no final da Idade Média e no Renascimento, quando os punhos se tornaram mais complexos e protetores para a mão sem perder a importância do pomo como contrapeso e elemento substituível.
Aspetos práticos para o colecionador e o entusiasta
Se o move a curiosidade histórica, a reprodução ou a recriação, valorize estes pontos antes de decidir como conservar ou reproduzir um pomo de disco:
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Autenticidade vs. funcionalidade: prefere uma réplica exata a nível estético ou uma peça que suporte uso intensivo?
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Manutenção: materiais distintos exigem cuidados distintos; o metal necessita de lubrificação, a madeira de hidratação.
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Segurança em recriações: em práticas de recriação, priorize pomos e terminações que não apresentem arestas cortantes nem peças soltas.
Um pomo bem desenhado e cuidado não só é fiel à história, como melhora a experiência de manuseio e conserva o valor da peça.
Ao examinar um pomo de disco, está a ler uma pequena biografia: a sua forma fala-lhe de técnica, o seu metal da oficina onde foi forjado, o seu peso do guerreiro que a usou.
Tome estes conhecimentos como bússola: ao analisar uma espada com pomo de disco poderá situá-la no tempo e na função, avaliar o seu equilíbrio e apreciar a intenção do artesão que a concebeu.












