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Escarcelas: as guardiãs das ancas nas armaduras medievais

Alguma vez te perguntaste o que protegia as virilhas do cavaleiro quando a lança do adversário vinha diretamente ao lado? No calor do combate, entre o peitoral e os quijotes, encontrava-se uma peça discreta mas imprescindível: a escarcela. Esta espécie de saia metálica foi fruto da necessidade, da técnica e do engenho dos armoreiros que procuravam preservar a mobilidade sem renunciar à defesa máxima.

O que são as Escarcelas de uma Armadura Medieval?

As escarcelas são painéis metálicos que pendem do volante do peitoral para proteger a zona alta da coxa e as ancas. O seu design varia de uma única placa rígida a várias launas articuladas que funcionam como uma saia de placas. A sua missão era simples mas vital: impedir que a ponta de uma lança ou a lâmina de uma espada alcançasse as virilhas, uma lesão que podia deixar fora de combate qualquer guerreiro.

Embora a sua forma tenha evoluído, a lógica por trás da escarcela é a mesma: cobrir o ponto de união entre torso e membros inferiores sem impedir os movimentos básicos de combate.

Escarcelas: evolução histórica e funções

A história da escarcela é uma história de adaptação. O que começou como uma referência a uma bolsa de cintura na Itália medieval transformou-se numa peça técnica da armadura completa, capaz de combinar proteção com mobilidade.

Época Evento
Origens e primeiras formas (Dos séculos XIV–XV)
Séculos XIV–XV (origem do termo) O termo “escarcela” originalmente aludia a uma bolsa de cinto em Itália; com o tempo, passou a designar a peça metálica que protege a parte superior das pernas e as ancas.
Século XV (uso estabelecido) As escarcelas já estavam bem estabelecidas: fixavam-se à borda inferior do peitoral (volante) e protegiam especialmente as virilhas. A sua forma lembrava uma telha com uma crista vertical; inicialmente eram presas com pregos, método que foi substituído por correias e fivelas.
Século XV (armaduras góticas) Destacam-se arestas curvas e radiadas; algumas armaduras incorporaram duas escarcelas adicionais pequenas para ampliar a cobertura da coxa. O habitual era fabricá-las como peça única.
Antes de 1470 (França) Em França era comum ver quatro escarcelas idênticas formando uma saia de placas usada sobre uma saia de malha.
Tempo de Luís XI (meados–finais do século XV) Adicionou-se estrias (fluting) às escarcelas para harmonizar com o volante do peitoral, integrando estética e função.
Inovação e especialização (Século XVI)
Início–meados do século XVI Começam a ser construídas com peças articuladas (abas sobrepostas e correias internas), melhorando enormemente a mobilidade para se agachar, girar ou manejar a arma sem perder proteção.
Por volta de 1550 (Filipe II) A armadura chamada “o trabalho das flores” incluía “escarcelas curtas”, refletindo novas soluções de design adaptadas a distintos usos.
1551 (Filipe II, “aspas ou cruzes da Borgonha”) Escarcelas com um alpartaz de malha (braguilha protetora); o peitoral e as escarcelas conceberam-se como uma única peça nessa guarnição, imagem que perdurou em representações pictóricas.
1544–1558 (Inventário da Real Armaria) Inventário iluminado mostra escarcelas com launa final de bordo inferior arredondado, presas com três correias — detalhe que reflete variações no fecho e na terminação.
Finais do século XVI (representação pictórica) Retratos como o de Pantoja de la Cruz (1599), baseado em Tiziano, mostram escarcelas com bordo arredondado mas fixadas com ganchos em vez de correias, sugerindo adaptação artística ou uso de peças diferentes das inventariadas.
Uso em cavalaria e a pé (século XVI) Em armaduras para combate a cavalo a escarcela direita era mais curta para facilitar a montagem; a esquerda, mais longa e reforçada por ser mais exposta. Para combate a pé existia uma escarcela adicional presa ao guarda-arnês para proteger o cóccix.
Representações artísticas e legado (Séculos XVI–XVII)
Cerca de 1630–1640 (Rubens) Em obras de Rubens aparecem escarcelas de cinco peças, com possibilidade de adicionar extensões e combinar-se com meios quijotes articulados, mostrando a complexidade técnica e a variabilidade de uso.
Cerca de 1648 (Velázquez) Retratos atribuídos a Velázquez mostram escarcelas com launas de extensão que permitiam alongar a proteção da perna; o seu design e tamanho diferem dos representados por Tiziano e hoje apenas se conservam as launas de uma delas.
Século XVII (legado) As escarcelas passam a fazer parte do simbolismo de poder e status. A sua presença na arte barroca permite compreender a sua construção, variantes e a tensão entre proteção e mobilidade ao longo dos séculos.

Design e construção: materiais, geometria e técnicasescarcelas-armadura-medieval

As escarcelas forjavam-se maioritariamente em aço ou ferro ao carbono, trabalhadas com martelo e têmpera para obter uma placa resistente. Algumas versões de caráter ceremonial recebiam adornos em latão, niquelado ou dourado, enquanto as peças funcionais priorizavam a resistência e o perfil de impacto.

A geometria de uma escarcela responde a duas necessidades contraditórias: desviar impactos e permitir o movimento. Por isso aparecem frequentemente:

  • Arestas e estrias (fluting): nervuras que reforçam a placa e desviam golpes.
  • Launas articuladas: peças sobrepostas que oferecem flexibilidade.
  • Reforços no lado exposto: em armaduras de cavaleiro a escarcela esquerda costuma ser mais reforçada.

Processo de fabricação (resumido)

Forjamento da placa, recozimento e têmpera para dar dureza; conformação mediante martelamento e moldagem; perfuração para rebites e correias; acabamento com brunimento ou pátina segundo o uso. As uniões interiores costumavam proteger o portador, evitando atritos com enchimentos de couro ou pano.

Escarcelas para combate a pé vs. combate a cavalo

O design adapta-se ao uso. A pé, a prioridade é a mobilidade do conjunto e a proteção frontal; a cavalo, o cavaleiro precisa de liberdade para montar e para receber golpes de ângulos diferentes.

Aspeto Combate a pé Combate a cavalo
Comprimento típico Equilibrada para cobrir coxas sem limitar passos longos. Assimétrica: esquerda mais longa e reforçada; direita mais curta para montar.
Articulação Launas articuladas para se agachar e deslizar. Articulação mais robusta no lado esquerdo; peças maciças em algumas ocasiões.
Proteção extra Escarcela adicional no guarda-arnês para proteger o cóccix. Reforços e abas para proteger a coxa exposta em lances e torneios.

Por que a assimetria: razões táticas

Em torneios e combates montados, o corpo do cavaleiro ficava virado para o oponente à esquerda; por isso essa zona suportava mais impactos. A escarcela mais longa e rígida do lado esquerdo oferecia defesa adicional sem penalizar a ação da lança.

O ajuste e a fixação: correias, ganchos e rebites

O primeiro método foi relativamente rude: pregá-las ao peitoral. Mais tarde, as correias com fivelas, rebites e ganchos permitiram um ajuste fino, uma fácil substituição e melhor manutenção. O uso de forros interiores de couro evitava atritos e distribuía melhor o peso.

  • Pregado: método antigo, pouco flexível.
  • Correias e fivelas: padrão desde o século XV; permitiam desmontá-las.
  • Ganchos e corrediças: usados a partir do Renascimento para ajustes rápidos no campo.

O resultado foi um sistema modular que facilitava a reparação em campanha e a adaptação de uma mesma armadura a usos distintos.

A escarcela na arte, na corte e no simbolismo

Além do campo de batalha, as escarcelas adquiriram um papel na iconografia cortesã. Representavam-se em retratos como emblemas de prestígio, não apenas como proteção. Artistas do calibre de Rubens e Velázquez deixaram registo de escarcelas ornamentadas, mostrando a simbiose entre função e estética.

Em alguns retratos a escarcela é exagerada ou modificada para enfatizar poder e dignidade; noutros casos, o pintor adapta a forma da peça segundo as convenções do ateliê. Estas imagens são hoje peças valiosas para compreender variantes históricas que não chegaram completas até nós.

Como ler uma escarcela: sinais de uso, reparação e autenticidade

Para o colecionador ou o restaurador, as escarcelas contam a sua história em marcas, rebites e pátinas. Procura:

  • Rebites refeitos: indicam reparações.
  • Marcas de impacto: amolgadelas e cicatrizes que contam confrontos reais ou provas de laboratório.
  • Acabamentos diferenciais: partes brunidas e outras com pátina que mostram uso e conservação.

Uma escarcela autêntica do século XVI mostrará técnicas de forja e união próprias da sua época; as réplicas modernas costumam evidenciar soldaduras contemporâneas ou tratamentos térmicos atuais.

Escarcelas na coleção e na recreação

Para reconstrutores históricos, colecionadores e estudiosos, as escarcelas são peças muito atraentes: combinam técnica, design e função. Uma réplica bem feita respeita proporções, articulação e materiais apropriados para o propósito (LARP, recriação ou exibição).

Manutenção e conservação

Manter uma escarcela em bom estado implica limpeza regular do aço, proteção contra a corrosão e revisão de correias e rebites. Para peças antigas, a intervenção de um restaurador é imprescindível; em réplicas, a substituição de correias de couro e o uso de óleos metálicos garantem longevidade.

  • Limpeza: pano seco e, se for o caso, uma ligeira passagem de óleo protetor.
  • Revisão: verificação periódica de rebites e pontos de flexão.
  • Armazenamento: ambiente seco, com suporte que evite deformação.

Comparativa técnica e recomendações para réplicas

Se procuras uma escarcela replicada com fidelidade histórica, considera:

  • Espessura do metal: equilíbrio entre resistência e peso.
  • Tipo de articulação: launas sobrepostas oferecem maior liberdade.
  • Fixação ao peitoral: correias e fivelas históricas são preferíveis para autenticidade.

A seguir uma tabela rápida com atributos a avaliar.

Elemento Histórico Réplica recomendada
Material Aço forjado ou ferro temperado Aço ao carbono 1,0–1,5 mm ou aço doce 2,0–2,5 mm consoante o uso
Articulação Launas rebitadas e articuladas Launas rebitadas com reforço interior e forro de couro
Fixação Correias e fivelas de couro Correias de couro de boa qualidade com fivelas de bronze

Perguntas que resolvem a experiência: mitos e realidades

escarcelas-de-armadura-medievalExistem ideias erróneas comuns sobre as escarcelas. Esclarecê-las ajuda a valorizar o seu papel na armadura completa:

  • Mito: “Uma escarcela rígida impede mover-se”. Realidade: A engenharia da launa e a articulação permitem grande mobilidade se estiver bem desenhada.
  • Mito: “Todas eram simétricas”. Realidade: Para a cavalaria a assimetria era uma norma por razões táticas.

A escarcela como ponte entre arte, engenharia e guerra

Se observares uma escarcela com olho atento verás um diálogo entre estética e função. O canelado, os nervos e as launas não só respondem a um gosto ornamental: são soluções técnicas que aumentam a rigidez e reduzem o peso aparente. Assim, uma peça bela também é uma peça eficaz.

As escarcelas continuam a ensinar-nos sobre a evolução da tecnologia militar e o bom design: a sua história revela decisões conscientes sobre como combinar proteção com liberdade de movimento. Ao entender a sua anatomia, a sua evolução e o seu papel na imagem do poder, apreciamos melhor a armadura completa como um sistema integrado.

Cada rebite, cada canelado e cada desgaste é um rasto de uso, reparação e sentido estético. Observar uma escarcela é ler uma página da engenharia medieval.

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