A imagem popular que temos dos vikings, frequentemente adornados com capacetes com chifres e peles rústicas, está longe da realidade histórica. A roupa viking era uma expressão sofisticada da sua identidade, estatuto social e riqueza. Longe de ser simples ou uniforme, a indumentária destes povos nórdicos, que viveram entre finais do século VIII e inícios do XI, era um reflexo do seu artesanato avançado e das suas amplas redes comerciais.
Os povos escandinavos do Norte da Europa usavam uma indumentária muito similar: os vikings costumavam usar túnicas, calças e camisas com diferentes motivos e decorações. Usavam diversos tecidos e cuidavam para que a sua roupa não ficasse muito justa ao corpo para não dificultar os movimentos.
O Tecido da Vida: Materiais e Produção da Roupa Viking
Os vikings eram mestres no uso dos recursos naturais para criar as suas vestimentas. Os materiais principais para a sua roupa viking eram a lã e o linho, escolhidos pela sua durabilidade e disponibilidade nas regiões nórdicas. Estes materiais formavam a base do vestuário diário, oferecendo proteção e conforto em diversas condições climáticas.
Lã: A Fibra Essencial
A **lã** era o material mais importante devido à sua versatilidade, calor e resistência. Mantém as suas propriedades isolantes mesmo quando húmida, o que era crucial para marinheiros e pescadores nas duras condições nórdicas. As ovelhas da época eram principalmente brancas, pelo que a maior parte da lã era desta cor, servindo de base para os corantes.
Linho: Leveza e Conforto
O **linho**, leve, fresco e confortável ao tato, era obtido das fibras da planta de linho. Era ideal para roupa interior e peças mais leves de verão. A sua produção era mais trabalhosa do que a da lã e, por isso, costumava ser mais cara, muitas vezes reservada para as classes mais abastadas. Isto já nos dá uma pista sobre o estatuto social que se podia inferir da roupa viking.
Peles, Couros e Seda: Luxos e Necessidades
Além da lã e do linho, os vikings também utilizavam **peles e couros** para roupas de abrigo como casacos e golas, oferecendo proteção adicional contra o clima rigoroso. O couro era fundamental para calçado, cintos e bolsas. A **seda**, um luxo importado de lugares distantes como Bizâncio ou o Oriente, era um sinal de opulência e era empregada com moderação para adornos decorativos nas vestimentas da elite. A seda e o linho eram mais caros, pois tinham de ser importados e apenas os mais ricos podiam usá-los em cores vivas.
A Arte das Cores e dos Corantes na Roupa Viking
Contrariamente à crença popular, a roupa viking era colorida, embora os corantes naturais que empregavam tendessem a desvanecer com o tempo. Os vikings dominavam a arte da tinturaria, extraindo cores de plantas, bagas, líquenes, minerais e até insetos.
Paleta de Cores Viking
- Azul: Obtido principalmente do pastel.
- Vermelho: Extraído da ruiva ou, no caso dos corantes mais valiosos, da cochonilha.
- Amarelo: Conseguia-se com gualda, folhas de bétula ou cascas de cebola.
- Verde: Uma combinação de corantes azuis e amarelos.
- Castanho e Preto: Utilizando cascas de noz, casca de carvalho ou lodos ferrosos.
A qualidade e a intensidade da cor da roupa eram um claro indicador do estatuto social. As cores brilhantes e raras estavam reservadas para as classes altas, enquanto a população comum usava peças de tons mais naturais ou apagados. As cores também tinham um significado simbólico: o vermelho associava-se ao poder e à riqueza, o azul aos deuses e o verde à fertilidade. Os vikings sentiam uma atração pelas peças de cores chamativas e pelos adornos brilhantes, o que nos revela uma sociedade com um gosto estético desenvolvido.
Técnicas de Tecelagem e Construção da Vestimenta Viking
Os vikings eram tecelões hábeis, utilizando diversas técnicas para produzir tecidos duráveis e esteticamente agradáveis. O tear de urdidura (tear vertical com pesos) era comum nos lares nórdicos. As técnicas incluíam a tecelagem de tafetá (o mais simples), a sarja (mais complexa, para tecidos fortes) e a espinha de peixe (uma variação da sarja que criava padrões distintivos em forma de V). Também se praticava o *nålebinding*, uma antiga técnica de costura manual anterior ao tricô e ao crochê, para confecionar peças flexíveis.
A confeção da roupa era feita de forma engenhosa para minimizar o desperdício de tecido, priorizando a funcionalidade e a durabilidade. A costura era realizada com agulhas de osso ou metal, e os bordados com fios de lã, linho ou seda de cores serviam como elementos decorativos e sinal de estatuto. Não descartavam a roupa velha, mas sim a decoravam com bandas costuradas e mudavam a cor ao longo do tempo, segundo um estudo realizado em restos encontrados em túmulos vikings, o que demonstra um grande sentido de sustentabilidade e apreço pelas suas vestimentas.
A Vestimenta Masculina Viking: Funcionalidade e Estatuto
A roupa viking para homens combinava funcionalidade com um reflexo da sua posição social, adaptando-se às exigências da vida diária e das viagens.
Túnica (Kyrtill) e Camisa Interior
A **túnica (Kyrtill)** era a peça central da roupa viking masculina, de lã ou linho, e chegava até aos joelhos. Por baixo, usava-se uma camisa interior, geralmente de linho. As túnicas podiam ter decorações simples nas mangas e na gola, ou tiras tecidas, que indicavam o estatuto e a riqueza do portador.
Calças Vikings: Variedade e Adaptabilidade
Existia uma grande variedade de calças na Era Viking. Costumavam ser justas e de lã, presas na cintura com um cinto ou cordão. Existiam variantes de corte reto (“Thorsberg”) ou bombachas, com ou sem pregas e podiam ou não chegar aos pés. Para se protegerem do frio, da humidade ou da neve, usavam umas correias ou calças, à maneira de faixa, que chegavam até aos calcanhares.
As calças não tinham bolsos nem braguilha e ajustavam-se com um cinto, que decoravam para ocasiões especiais, servindo também como um elemento distintivo da sua roupa viking.
Polainas ou Ataduras para as Pernas (Rastrojeras/Winningas)
Enrolavam-se dos tornozelos à base dos joelhos, feitas de lã e presas com uma fíbula ou tira tecida. Ofereciam proteção, calor e suporte adicional, sendo um componente prático e necessário da roupa viking para o dia a dia.
Capas e Mantos: Proteção e Símbolo
As **capas e mantos** eram longos, grossos e pesados, prendiam-se ao ombro direito com fortes correias ou um broche (fíbula), deixando a mão direita livre para armas ou ferramentas. Eram importantes para se protegerem do clima e como símbolos de estatuto. A capa era uma simples peça rectangular de lã trançada ou de peles de animais com pelo, para se protegerem do frio e da chuva. A capa era presa com uma agulha ou broche que podiam ser de osso ou metais preciosos com motivos vikings.
Calçado e Acessórios
Os **sapatos e botas de couro** robustos eram o mais comum. Fabricavam-se frequentemente de uma só peça de couro utilizando a técnica de “cosido e virado” para os tornar impermeáveis. Eram tratados com gordura ou óleo para manter a flexibilidade e repelir a água. As meias para proteger os pés do frio e da humidade eram de lã.
Os **cintos** vikings fabricavam-se de couro e podiam estar decorados com fivelas de prata ou bronze. No cinto amarravam-se utensílios essenciais como uma faca e uma bolsa de couro ou de tecido. Enquanto as calças não tinham bolsos, necessitavam de uma bolsa para guardar os seus utensílios, o que fazia do cinto um acessório indispensável na roupa viking.
Os **gorros** também se fabricavam com lã ou pele felpuda ou couro e tinham diversidade de designs. Também usavam luvas e sapatos com estes materiais.
A Vestimenta Feminina Viking: Beleza e Papel Social
A roupa viking das mulheres também equilibrava a funcionalidade com o estilo e a indicação de estatuto, mostrando a importância do papel feminino na sociedade nórdica.
Camisa ou Vestido Interior
Uma peça longa, frequentemente até aos tornozelos, de linho ou lã, que servia como base. Algumas mulheres vikings usavam roupa interior, como uma camisa longa, sobre a qual punham um longo vestido decorado com fios de prata e ouro que lhes chegava até aos pés, mostrando a riqueza e a posição social.
Sobrevêtement (Hangerock)
Usado sobre o vestido interior, sem mangas, geralmente de lã. Distinguia-se pelas suas alças, que se prendiam na parte dianteira com fíbulas ou broches artisticamente elaborados. Estas fíbulas não só serviam para fechar a peça, como também eram importantes joias e símbolos de estatuto dentro da roupa viking feminina.
Capas, Xales e Aventais
Nos meses mais frios, as mulheres usavam uma capa ou xale para se protegerem. Os **aventais** eram práticos para a vida diária, protegiam a roupa do trabalho e podiam estar decorados com bordados ou galões para ocasiões festivas.
Toucas e Véus
As mulheres casadas costumavam cobrir a cabeça com **toucas de linho ou seda**, cuja elaboração indicava a sua posição social. Também foram encontradas evidências de chapéus ou boinas para atividades ao ar livre, somando ao complexo conjunto da roupa viking.
Cinto e Bolsa
Semelhante aos homens, usavam um cinto de couro ao qual prendiam uma bolsa e uma faca. Às vezes penduravam objetos úteis dos broches que prendiam o vestido, demonstrando a praticidade e a necessidade de ter à mão os seus pertences.
Joias e Acessórios: Para Além da Decoração
As joias vikings não eram apenas ornamentos; tinham funções práticas, simbólicas e económicas. Foram encontradas mais provas de joias do que de roupa, já que o metal sobrevive melhor ao passar do tempo. Estes acessórios complementavam a roupa viking e frequentemente eram mais duráveis do que as próprias vestimentas.
As Cinco Funções Principais da Joalharia Viking
- Ornamentação estética: Para realçar a aparência pessoal.
- Acessórios para fechar roupa e/ou segurar artigos: Elementos funcionais.
- Símbolo de crença e proteção: Conexão com o espiritual.
- Indicador de estatuto social ou económico: Refletiam a riqueza e posição do portador.
- Meios de pagamento para trocas comerciais: Especialmente os anéis de pescoço e prata fragmentada.
Os materiais variavam consoante a classe social: os ricos podiam permitir-se joias de bronze, prata (o metal mais comum) e ouro, por vezes adornadas com pérolas, cristais e pedras preciosas. Os menos abastados usavam metais comuns, âmbar ou vidro.
Alfinetes e Fíbulas (Broches)
Eram o principal meio para prender a roupa. O seu design podia convertê-los em símbolos de riqueza, estatuto e religião. As fíbulas ovais foram populares nos séculos IX e inícios do X, substituídas por broches em forma de disco no século X. As fíbulas de tartaruga eram típicas da era viking e um elemento distintivo na roupa viking.
Colares e Amuletos
Os vikings usavam colares e anéis para o pescoço (torques) de metal sólido, frequentemente usados como moeda. Os colares costumavam apresentar pendentes com designs simbólicos, pensados para oferecer proteção e apoio. O Martelo de Thor (Mjolnir) foi, com diferença, o amuleto mais popular. Outros símbolos incluíam pendentes redondos (estrela solar), miniaturas de ferramentas (atividade/fertilidade), cruzes (com a cristianização), a lança de Odin (Gungnir), e representações dos tronos de Thor e Odin, ou as Valquírias.
A Roupa como Símbolo de Estatuto
A roupa viking era um poderoso reflexo da posição social do indivíduo. Os *jarls* (líderes) e os ricos vestiam peças de tecidos finos, frequentemente importados e combinados com materiais locais, decoradas com elaborados bordados, valiosos broches e fíbulas. As rotas comerciais dos vikings, que se estendiam desde a América do Norte até ao Mar Cáspio, influenciaram significativamente a sua moda, levando a uma mistura de estilos e técnicas. Em contraste, os camponeses livres e artesãos usavam roupa mais simples, produzida localmente, embora também valorizassem os adornos, ainda que em menor medida. A atração pela roupa de qualidade e a modificação das suas peças ao longo da vida para estarem na moda demonstram uma sofisticação que muitas vezes é negligenciada.
O Que Sabemos Hoje? Fontes e Arqueologia da Roupa Viking
O nosso conhecimento sobre o vestuário viking provém de diversas fontes, o que nos permite reconstruir com precisão como era a roupa viking:
Achados Arqueológicos
Apesar de os materiais orgânicos se deteriorarem facilmente e de não ter sido encontrado um único exemplo completo de roupa viking, sobreviveram fragmentos de têxteis. Descobertas em túmulos de barcos como Oseberg e Gokstad conservaram restos têxteis que revelam informações sobre materiais, técnicas de tecelagem e padrões. Outros locais importantes incluem Hedeby e Birka, fornecendo valiosa informação sobre a roupa viking.
Descrições Contemporâneas
As sagas islandesas e os relatos de viajantes árabes, como Ibn Fadlan, fornecem valiosos detalhes sobre a roupa nórdica, complementando os achados arqueológicos.
Representações Pictóricas
As pedras com imagens (especialmente em Gotland) e as miniaturas em manuscritos medievais oferecem indícios visuais, embora sempre devam ser examinadas criticamente devido às liberdades artísticas da época.
A Recriação Histórica Atual da Roupa Viking
Hoje em dia, a recriação histórica do vestuário viking procura a máxima fidelidade aos achados arqueológicos e textos históricos. Faz-se uma distinção entre os “vikings ocidentais” (noruegueses e dinamarqueses) e os “vikings orientais” (suecos e russos), já que as suas indumentárias e armamentos mostravam diferenças devido às suas rotas de comércio e influência cultural. Por exemplo, no contexto das incursões vikings na Península Ibérica, considera-se que foram principalmente de origem norueguesa ou dinamarquesa, pelo que os elementos de influência eslava ou oriental não são considerados autênticos para essa recriação.
A roupa dos vikings, longe de ser simples ou uniforme, era uma manifestação complexa da sua sociedade, economia e crenças. Refletia o seu engenho, a sua adaptabilidade e um aguçado sentido da estética e do simbolismo. Através do estudo dos seus tecidos, vestimentas e adornos, obtemos uma visão mais profunda de uma cultura rica e multifacetada que valorizava tanto a funcionalidade como a beleza em cada fio. Se procuras a melhor roupa viking para recriação histórica ou simplesmente para um estilo autêntico, explora a nossa seleção e encontra peças que te transportarão para a era dos grandes navegadores nórdicos.
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