Alguma vez se perguntou que segredos guardavam os antigos guerreiros nórdicos nas suas joias? Os pendentes viking, muito mais do que simples adornos, eram poderosos talismãs que teciam o destino dos seus portadores. Cada peça, meticulosamente elaborada, contava uma história de deuses, batalhas e uma profunda conexão com o cosmos. Neste guia completo, desvendaremos o fascinante simbolismo por trás de cada pendente viking, mergulhando na rica mitologia e nas crenças de uma civilização que forjou o seu legado com aço e espírito.
Joias viking: evolução cronológica e simbolismo dos pendentes
A joalharia viking (séculos VIII–XII) funcionou como adorno, símbolo de estatuto, amuleto religioso e meio de pagamento. Os seus motivos, inspirados em crenças e mitos, procuravam atrair sorte, força e sabedoria. A seguinte tabela apresenta uma cronologia geral dos motivos de pendentes e o seu simbolismo de acordo com quando se tornaram populares ou se consolidaram como amuletos.
| Época | Evento / Símbolo e simbolismo |
|---|---|
| Séculos VIII – X: Simbolismo inicial e motivos animais | |
| Estilos artísticos iniciais | Arte Broa-Oseberg (segunda metade do s. VIII–meados do s. IX) e estilo Borre (s. IX–segunda metade do s. X): forte presença zoomórfica em joalharia; representação estilizada de animais e entrelaçados. |
| Representações de deuses em forma de animais |
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| Yggdrasil (Árvore do Mundo) | Símbolo cosmológico central: interconexão de todas as coisas e a natureza cíclica da vida; pendentes mostram ramos e raízes entrelaçadas. |
| Gungnir (lança de Odin) | Imagens presentes desde o século IX em cerâmicas e urnas funerárias. Simboliza poder, proteção, autoridade, valentia, inspiração e sabedoria. |
| Finais do século X – século XI: Auge de amuletos de proteção divina | |
| Martelo de Thor (Mjölnir) |
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| Valknut (nó dos caídos) |
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| Aegishjalmur (Capacete do Terror) | Cronologia: símbolo antigo com evidências desde o século VI. Simboliza proteção e poder; acreditava-se que infundia terror nos inimigos e outorgava força e coragem. |
| Runas (Futhark) em joalharia |
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| Posterior ao período viking ou origem duvidosa/adoções (pós-Era Viking / moderno) | |
| Vegvisir (bússola viking) |
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| Elementos de origem celta (Triqueta, Trisquel) |
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| Cruz do Trol (Trollkors) | Símbolo usado em épocas posteriores como amuleto de proteção e sorte contra trolls (manifestações do caos); associado ao folclore escandinavo mais recente. |
O Martelo de Thor (Mjölnir): Protetor de Mundos

O Mjölnir, o martelo de guerra do deus Thor, é sem dúvida o emblema viking mais reconhecido e venerado. Era um amuleto central que simbolizava a força, a proteção e o vigor. Os vikings usavam-no para invocar a proteção de Thor contra inimigos, perigos e o mal. Mas o seu poder ia além da batalha. Também era um emblema de fertilidade, crescimento e boa fortuna, utilizado em cerimónias para abençoar casamentos, campos e enterros. Era associado à vitória da luz sobre a escuridão e, curiosamente, foi encontrado com maior frequência nos túmulos de mulheres, sugerindo um significado cultural ou ritual mais amplo do que apenas o simbolismo guerreiro. Na era da cristianização, o Mjölnir tornou-se um símbolo de resistência à nova fé, sendo forjado inclusive junto às cruzes cristãs.
Valknut: O Nó dos Caídos em Batalha
O Valknut, também conhecido como o “Nó de Odin” ou “Nó dos Caídos”, é um misterioso símbolo de três triângulos entrelaçados. O seu nome traduz-se como “nó da morte” ou “nó dos caídos na batalha”, e associa-se diretamente com Odin, o deus supremo da guerra, da sabedoria e da magia. Este potente emblema simboliza a transição entre a vida e a morte, honrando os valentes guerreiros caídos e representando a sua viagem ao Valhalla. Acredita-se que o Valknut encarna o poder de Odin para “atar e desatar mentes”, concedendo ou retirando coragem, e exercendo controlo sobre a vida e a morte. Hoje em dia, quem o porta fá-lo como uma declaração de força, coragem perante o destino e respeito pela tradição ancestral.
Vegvisir: A Bússola que Guia o Destino

Embora a sua origem seja posterior à Era Viking (aparecendo em manuscritos islandeses do século XIX), o Vegvisir, ou “bússola viking”, foi adotado como um poderoso símbolo nórdico. É um círculo com oito ramos ou raios, e acreditava-se que guiava o seu portador através de mares tempestuosos, viagens difíceis ou terrenos adversos, ajudando-o a encontrar o seu caminho mesmo quando estava perdido ou desorientado. O seu nome, “Aquele que mostra o caminho”, descreve-o perfeitamente. É um selo mágico de proteção cujo propósito é evitar que se perca física, mental ou emocionalmente. Atualmente, simboliza a orientação pessoal, a estabilidade e a força para se manter focado nos objetivos face às “tempestades da vida”.
Ægishjálmr: O Yelmo do Terror e da Proteção
O Ægishjálmr, ou “Capacete do Terror/Pavor”, é um símbolo de formidável poder, representado como um ponto central do qual emanam oito linhas que terminam em tridentes. Este amuleto de proteção acreditava-se que infundia terror nos inimigos, paralisando-os de medo, e ao mesmo tempo outorgava força e coragem ao portador. A sua origem remonta ao século VI, sendo encontrado gravado em capacetes e escudos para semear o medo na batalha. Atribui-se-lhe a capacidade de melhorar as habilidades mentais e outorgar controlo sobre os outros, sendo um verdadeiro talismã de invencibilidade e empoderamento.
Yggdrasil: A Árvore Cósmica da Vida

Yggdrasil, o imenso freixo que atua como eixo central dos Nove Mundos na cosmologia nórdica, é um símbolo de profunda interconexão. Esta “Árvore do Mundo” representa o ciclo da vida, da morte e da transformação interminável, unindo todos os reinos da existência. As joias com o Yggdrasil geralmente apresentam um complexo design de ramos e raízes entrelaçadas, que visualizam o cosmos nórdico. Também é conhecido como o “cavalo de Odin” ou “árvore terrível”, devido à lenda de Odin se pendurar nele durante nove dias para desvendar o segredo das runas e da sabedoria, conectando assim este símbolo com o sacrifício e o conhecimento.
As Runas do Futhark: Magia Escrita na Pele
As runas, os caracteres do alfabeto Futhark, transcendiam a mera escrita para os vikings. Eram portadoras de poderes mágicos e significados simbólicos profundos. Gravadas em joias, tornavam-se amuletos para proporcionar proteção, sorte ou poderes especiais. Cada runa tinha a sua própria essência:
- Fehu (Letra F): Simboliza riqueza, abundância, recompensa e sucesso, um sinal de esperança e solidez financeira.
- Uruz (Letra U): Representa a força física ou mental, resistência, coragem e potência indomável. Também se associa à fertilidade.
- Thurisaz (Letra Th): Encarna o poder mágico, as forças do caos, a destruição e a defesa. Pode ser um aviso ou um protetor.
- Ansuz (Letra A): Runa de Odin, ligada ao conhecimento, à sabedoria e à comunicação, representando o poder divino e as profecias.
- Algiz/Elhaz (Letra Z): Um potente símbolo de proteção, refúgio seguro e oportunidade de crescimento, gravada em armas para obter vitória e segurança em batalha.
- Tiwaz/Tyr (Letra T): Runa do guerreiro e dos líderes, simboliza coragem, valentia, dedicação e vitória. Proteção em viagens marítimas.
Othala/Odal (Letra O): Representa a herança, a persistência e a tradição, simbolizando a terra ancestral, o lar e a fortaleza da família.
Amuletos de Animais: Espíritos da Natureza
A simbologia animal era omnipresente nos amuletos vikings, muitas vezes encarnando as qualidades dos deuses:
- Corvos (Huginn e Muninn): Os fiéis companheiros de Odin, simbolizam o pensamento (Huginn) e a memória (Muninn), representando a sabedoria e a consciência do deus.
- Lobos (Fenrir, Geri e Freki): Encarnam a lealdade, o espírito de luta, a força, a resiliência e a determinação. Geri e Freki eram os lobos de Odin, enquanto Fenrir particulariza a força indomável e a retribuição. Também eram um símbolo de proteção geral.
- Dragões e Serpentes (Jörmungandr): Figuras recorrentes que simbolizam força e valentia. Jörmungandr, a Serpente de Midgard, representa a natureza cíclica da existência e a capacidade de superar desafios.
- Urso (Berserker): O urso simboliza a força e o valor, enquanto o símbolo Berserker evoca o feroz espírito guerreiro e a determinação inabalável.
- Gato: Associado à deusa Freya, deidade do amor, da beleza e da fertilidade, os motivos felinos nas joias podiam simbolizar uma conexão com ela.
Outros Pendentes com Profundo Significado
- Gungnir (Lança de Odin): Símbolo de poder, proteção, autoridade, valor, inspiração e sabedoria. Acreditava-se que esta lança mágica nunca falhava o seu objetivo.
- Triplo Corno de Odin: Representa a inspiração poética, a sabedoria e a eloquência. Simboliza o equilíbrio e a unidade do corpo, mente e alma.
- Triqueta (Nó da Trindade): Embora com influências celtas, na cultura nórdica simboliza a unidade e o equilíbrio do espírito, do corpo e da alma, e a vida espiritual eterna.
- Barco (Drakkar): Um potente símbolo da vida, do sustento, da viagem pela vida e do além. Os Drakkar representam o guerreiro intrépido e recordam a valentia necessária para enfrentar os desafios.
- Cruz de Troll: Utilizada como amuleto de proteção e sorte para se defender dos trolls e afastar as energias negativas, associada ao folclore escandinavo mais recente.
- Bracteates: Medalhões redondos com inscrições rúnicas e iconografia mitológica, usados como talismãs e amuletos para proteção mágica, bênçãos e invocações de poder divino.
- Pendentes de Osso/Chifre: Gravados com runas e símbolos mágicos, usados como talismã de proteção ou identidade no além.
O maior catálogo de pendentes vikings
Esclarecendo dúvidas sobre símbolos e rituais vikings
Qual é o significado do Valknut na cultura viking?
O Valknut na cultura viking é um símbolo formado por três triângulos entrelaçados que representa principalmente a morte, a transição da alma e a conexão com Odin, deus da guerra e da morte. Associa-se com os guerreiros caídos em batalha e com a libertação do espírito para se unir ao exército de Odin no Valhalla, lugar onde os valentes guerreiros se preparam para o Ragnarök. Além disso, interpreta-se como um símbolo de poder e controlo sobre o destino, e está vinculado a rituais funerários e ao além. Também pode simbolizar a magia de Odin no campo de batalha e o ciclo de vida e morte.
O que simboliza o martelo de Thor na mitologia nórdica?
Na mitologia nórdica, o martelo de Thor, Mjölnir, simboliza várias coisas importantes:
- Proteção e Defesa: Mjölnir é a arma principal de Thor, utilizada para afastar os perigos, especialmente os gigantes que ameaçavam os deuses e os humanos.
- Força e Poder: É um símbolo da enorme força de Thor e da sua capacidade para dominar e controlar as forças da natureza, como o trovão e o relâmpago.
- Bênção e Fertilidade: Além da sua função destrutiva, Mjölnir também se associa à fertilidade e à bênção em casamentos, mostrando uma dualidade entre destruição e criação.
- Manter a Ordem Cósmica: Acredita-se que Mjölnir ajuda a manter o equilíbrio e a ordem no mundo, protegendo contra o caos e preservando a ordem divina em cerimónias como nascimentos, casamentos e enterros.
Como eram utilizados os pendentes vikings em rituais funerários?
Os pendentes vikings, especialmente aqueles com símbolos como o martelo de Thor, eram utilizados em rituais funerários como amuletos protetores que acompanhavam o defunto na sua viagem ao além, simbolizando a proteção divina e a sua identidade espiritual. Faziam parte do espólio funerário, que incluía objetos pessoais para serem úteis na outra vida e refletir o estatuto social do falecido.
Estes pendentes, juntamente com joias, armas e vestes especiais, eram depositados com o defunto durante o enterro, seja num barco, pira funerária ou túmulo, para acompanhar e proteger o espírito durante a transição para o além, integrando-se assim na complexa cosmovisão e ritualidade viking em torno da morte e da vida depois desta.
Que materiais eram comumente utilizados para fabricar os pendentes vikings?
Os pendentes vikings eram fabricados principalmente com uma variedade de metais de acordo com a acessibilidade e o estatuto social: a prata era o material mais comum e popular, associada à luz e à magia, amplamente utilizada tanto em joias quotidianas como em peças mais elaboradas; o ouro, embora muito mais escasso, era reservado para as elites e as peças de maior luxo; o bronze e o ferro eram materiais acessíveis para a maioria da população, usados em pendentes funcionais e decorativos. Também se empregavam outros materiais como ossos de animais, âmbar, resina e ocasionalmente pedras ou seixos tingidos para adornos e amuletos.
Que outros símbolos vikings eram populares na joalharia?
Além do popular Martelo de Thor (Mjölnir), outros símbolos vikings muito usados na joalharia incluem:
- Valknut: formado por três triângulos entrelaçados, associado com Odin e simbolizando a vida futura e o poder divino.
- Aegishjalmur (Yelmo do Assombro): um talismã para a proteção e a vitória em batalha.
- Vegvisir: conhecido como a bússola viking, simboliza a guia e proteção durante as viagens.
- Runas: alfabetos com significados filosóficos e espirituais, usadas em amuletos para proteção, sabedoria ou bênçãos.
- Triskele: símbolo de três braços em espiral que representava movimento e ciclo.
- Animais mitológicos: como lobos (Fenrir) ou corvos (Muninn e Huginn, de Odin), que representavam poder, sabedoria e proteção.
Estes símbolos decoravam colares, anéis, pulseiras e broches, servindo tanto como ornamentos, amuletos protetores e em alguns casos como moeda na sociedade viking.
Cada pendente viking é um eco de uma era lendária, um fragmento de história que continua a ressoar no presente. Ao usar um pendente viking, não só adorna o seu corpo, como também se conecta com os valores de coragem, proteção e sabedoria que definiram uma das civilizações mais fascinantes da história.








