O que contam as moedas quando as observa à contraluz? Uma moeda medieval não é apenas metal em pedaços; é a marca do poder, o eco de um mercado ambulante e o amuleto de um pacto entre governantes e súbditos.
Neste artigo, irá percorrer o nascimento, a evolução e a função social das moedas medievais. Aprenderá como eram reguladas, porque é que algumas peças valiam mais do que outras, que símbolos carregavam e como interpretar as suas marcas de cunhagem. Encontrará também uma cronologia detalhada de Castela, comparações técnicas entre metais e uma seleção de réplicas representativas para ver como essas imagens se conservam no presente.
Breve panorama: porquê as moedas transformaram a Idade Média
Antes das moedas, o escambo dominava; depois, uma peça metálica com peso e teor estabeleceu confiança. As moedas medievais trouxeram facilidade para o comércio, permitiram a cobrança de impostos regulares e ofereceram uma plataforma para a propaganda do poder. Um busto, um escudo ou uma lenda em latim certificavam autoridade e legitimidade.
Além disso, a composição metálica (ouro, prata, vinhão ou cobre) fixava um valor intrínseco que muitas vezes se tentou regular através de pragmáticas e ordenanças. Quando o conteúdo metálico era alterado ou a cunhagem se multiplicava sem controlo, surgia a inflação, as remessas de prata para o exterior ou a perda de confiança.
Moedas medievais em Castela: marcos e transformação monetária
A seguinte tabela apresenta uma sucessão cronológica de factos relevantes sobre a moeda na península ibérica, com especial atenção a Castela: cunhagens, reformas, crises e mudanças de padrão monetário desde o fim do Império Romano até à transição para o sistema moderno após 1497 e acontecimentos relevantes até 1718.
| Data / Época | Evento |
|---|---|
| Entre o Baixo Império Romano e o mundo germânico | |
| Finais do século V | Cunha-se o nummus de cobre no sistema monetário romano. |
| Início do século V | O exército romano abandona a Britânia; ali cessa o sistema monetário romano e aparecem anglos e saxões. |
| Depois de 476 | As cunhagens visigóticas “pseudo-imperiais” imitam a moeda imperial bizantina após a queda de Roma. |
| 507 | Os visigodos mudam-se para a península ibérica e formam o reino de Toledo, cunhando ainda em nome do imperador oriental. |
| Meados do séc. VI | Os príncipes germânicos começam a cunhar moeda com seus próprios nomes. |
| Finais do séc. VI | Em Itália, os solidi francos não são aceites e os impostos deixam de ser pagos em ouro. |
| 571–586 (Leovigildo) | Leovigildo emite moeda em seu próprio nome com independência imperial; cunhagens exclusivamente de ouro. |
| 586–601 (Recaredo) | Progressiva depreciação do teor da moeda visigótica; exemplo prototípico: triente de Recaredo. |
| 685–705 (Abd al-Malik) | Reforma árabe: o mithqal identifica-se com o dinar de ouro (~4,25 g) e consolida-se o seu padrão. |
| 717 | Bloqueio marítimo bizantino (Leão III) que pôde contribuir para a crise comercial mediterrânica. |
| Alta Idade Média | Diminui tanto a quantidade de moeda em circulação que apenas se pode falar de economia monetária. |
| Século VIII | Um dinheiro de Aragão equivalia a 20 dinheiros de Castela (proporção regional significativa). |
| 866–909 (Afonso III) | No seu testamento, concede 500 metcais (mencais) de ouro puríssimo ao bispo de Zamora. |
| Primeiras moedas castelhanas (até ao século XII) | |
| Segundo terço do séc. X | Multiplicam-se as menções documentais à moeda na Galiza, Leão e especialmente em Castela. |
| 1010 | Raimundo Borrell III recebe cem peças de ouro por dia como “parias” pela sua ajuda militar. |
| 1010–1050 | As “parias” permitem a Raimundo Borrell consolidar a hegemonia nos condados catalães. |
| Meados do séc. XI | Baixa qualidade de cunhagens em algumas Taifas por controlo almorávida sobre a rota do ouro do Sudão. |
| Anos 60 do séc. XI | Em Leão e Castela começam a cobrar-se “parias” sistematicamente. |
| Finais do séc. XI | Introdução na península do dinar de ouro almorávida ou morabitino. |
| 1035–1065 (Fernando I) | As “parias” facilitam doações e censo anual ao mosteiro de Cluny. |
| 1065–1109 (Afonso VI) | Começam as cunhagens da Coroa de Castela; cunha dirhams e depois dinheiros de vinhão a 30% seguindo o modelo carolíngio. |
| 1085 | Tomada de Toledo por Afonso VI: ponto de inflexão monetário; transição para vinhão cristão. |
| 1088 | Já circulam vinhões puramente cristãos de Afonso VI. |
| 1109–1126 (Urraca I) | Continuam as cunhagens em vinhão carolíngio; multiplicação de casas da moeda reais e concessões de cunhagem a instituições eclesiásticas (1116). |
| 1112 | Bispo de Oviedo doa a Urraca em ouro e prata “mourisca”. |
| 1117 | Um morabitino equivalia a 4 soldos de conta (48 dinheiros). |
| Meados do séc. XII | O ouro muçulmano (morabitino) cruza o Douro e introduz ouro no norte peninsular. |
| 1126–1157 (Afonso VII) | Multiplicam-se os tipos de vinhão (incluindo a lenda IMPERATOR) e controla a maioria das casas da moeda. |
| c.1130 | No reino de Toledo, um mencal equivalia a meio dinar almorávida. |
| 1135 | Afonso VII é coroado totius Hispaniae Imperator. |
| 1136–1145 | Intrusão do morabitino (ouro almorávida) no norte peninsular. |
| 1147 | Afonso VII cunha em Baeza uma moeda de ouro com tipologia árabe, mas padrão métrico castelhano. |
| 1149 – ca.1150 | Documentos e Usatges fixam equivalências: ~3,5 mencais/mancusos por morabitino. |
| 1157 | Separação de Castela e Leão: cunhagens de dinheiros diferentes em cada reino. |
| 1157–1188 (Fernando II) | Terminam as emissões por concessão de cunhagem realizada por Urraca. |
| 1158–1214 (Afonso VIII) | Cunha-se os primeiros maravedis velhos (alfonsinos) de ouro; sistematiza-se a emissão com predomínio do castelo e lendas ANFUS REX / TOLLETA. |
| 1172 | A tomada de al-Andalus pelos almóadas interrompe as “parias”; Afonso VIII cunha morabitinos castelhanos com lenda árabe. |
| 1179–1180 | Foros (Uclés, Cuenca) fixam equivalências entre mencais e morabitinos (3 a 4 mencais por morabitino, segundo textos). |
| 1195 | Derrota de Alarcos: começa grande quebra da moeda de vinhão em Castela até 1212. |
| 1197 | Pedro II de Aragão jurou manter a moeda; bulas papais exortam a restabelecer peso e mencionam quotas face ao ouro. |
| Problemática monetária e “revolução monetária” em Castela (1170–1340) | |
| 1202 | Cortes de Benavente: primeira moeda foraleira após desvalorização de dinheiros por Afonso IX. |
| 1205 | Pedro II fixa periodicidade do imposto de cunhagem em Aragão e Catalunha (a cada 7 anos). |
| 1207–1208 | Crê-se que Afonso VIII estabelece a moeda foraleira em Castela. |
| 1210 | Afonso IX realiza as últimas doações de benefícios reais de cunhagem. |
| 1212 | Criação na Catalunha do quaternário (vinhão); Fundação da Universidade de Palência; batalha de Las Navas de Tolosa marcará a próxima estabilização. |
| 1213–1276 (Jaime I) | Criação da jaquesa de vinhão. |
| 1214–1217 (Henrique I) | Mantêm cunhagens de maravedis velhos de ouro. |
| 1215 | Primeira menção explícita à moeda foraleira em Castela. |
| 1217 (Tratado de Toro) | Taxa de câmbio fixada: 90 dinheiros burgaleses = 1 morabitino; dinheiro pepião valia metade do burgalês. |
| 1217–1219 | Equivalências entre dinheiros (pepião, burgalês) fixadas por Fernando III e Afonso IX; foral de Guadalajara estabelece 3 mencais = 1 morabitino (1219). |
| Década de 1220 | Forais (p. ex. Brihuega) fixam equivalências: 18 pepiones = 1 mencal. |
| 1230–1252 (Fernando III) | Possíveis desvalorizações do ouro; estabelece-se o morabitino de conta; o dinheiro pepião circula até 1265. |
| 1231 | Estabelece-se a confiscação de bens por falsificação de moeda. |
| 1236 | Jaime I legisla para simplificar o cálculo do “monedaje”. |
| 1251–1252 | Aparece o maravedi “bom” como nova moeda de conta, substituindo o maravedi alfonsino de ouro; maravedi “bom” = 180 dinheiros de prata. |
| 1252 | Iniciam cunhagens do florim e genovino em Itália, marco monetário europeu. |
| 1252–1284 (Afonso X) | Afonso X tenta racionalizar tipos, homogeneizar pesos e transformar a natureza jurídica da moeda foraleira. |
| 1253 | Afonso III de Portugal fixa equivalências: 1 morabitino = 112 burgaleses ou 116 leoneses. |
| 1258 | Cortes de Barcelona: Jaime I cria a moeda do ternal e proíbe a Megalona na Catalunha. |
| 1259 | Primeira notícia explícita da quebra do ouro castelhano-leonês. |
| 1261 e 1268 | Afonso X delimita pesos e medidas segundo o modelo toledano; cunha um soldo de prata fina e modifica equivalências do vinhão. |
| 1264–1268 | Guerra contra Granada: Afonso X introduz o dinheiro alfonsino (branca ou blanquilla), moeda de prata desvalorizada; cessam as “parias” granadinas. |
| 1265 | A “blanca” desloca o burgalês, leonês e pepião na circulação. |
| 1266 | França cunha os seus primeiros escudos de ouro. |
| 1268 (Cortes de Sevilha) | Nobreza protesta por inflação; Afonso X separa o valor do maravedi de conta do valor real da moeda de ouro (dobra = 3 maravedis de conta então). |
| 1269 | O rei obtém um serviço extraordinário equivalente a seis moedas foraleiras. |
| 1270–1300 | Aparecimento sucessivo de quatro novas moedas desvalorizadas; episódios de revoltas e tensões fiscais. |
| 1271 | Introdução do “prieto” (dinheiro “prieto”), valor nominal 6 “blancas”, mas com menor valor intrínseco. |
| 1272 | Revoltas nobiliárias em parte pelo descontentamento com a moeda. |
| 1278 | Segunda guerra com Granada: cunhagem de moeda nova “blanca” (com menos prata) e classificação de emissões anteriores como “blanquillas”. |
| 1282–1288 | Sancho IV promete estabilidade; em 1286 quebra do vinhão, aparecimento do “coronado” e da “miaja”; 1288 Cortes de Haro com compromisso real contra novas alterações. |
| 1295 | Morte de Sancho IV: as intenções de estabilidade fracassam; proliferam “novenes” de pior teor e moeda falsa aragonesa. |
| 1298–1299 | As casas da moeda francesas fornecem grande parte das receitas reais de Filipe IV (exemplo de circulação internacional). |
| 1300 | Fundação da Universidade de Lérida. |
| 1302–1303 | Jaime II regulamenta a cobrança do “monedaje”; Fernando IV ordena equivalências entre “novenes” e “coronados”. |
| 1310 | Rácio ouro/prata sobe para 1:12.5 (aumento de 25% em relação a 1268). |
| 1312 (menoridade de Afonso XI) | Aumentam as dificuldades: cunhagens falsas, exportação fraudulenta de metais e circulação de moeda estrangeira nas fronteiras. |
| c.1313 | Guiu Terrena discute o bem comum face à alteração da moeda. |
| 1326 (Barcelona) | A cidade emite bónus com juros (censais e “violari”) para se financiar e evitar desvalorizações. |
| 1331 | Afonso XI ordena cunhar vinhão com o mesmo teor de Fernando IV para procurar estabilidade; apreende tabelas de câmbio por um ano. |
| 1334 | Afonso XI cunha “coronados” segundo equivalências prévias, gerando inflação e saída de moeda. |
| 1340 (Batalha do Salado) | Melhoria monetária por maior abundância de ouro; a dobram passa a valer 35 maravedis de conta. |
| 1342 | Cortes: Afonso XI obtém serviços extraordinários e implanta a alcabala de forma generalizada. |
| 1345 | Afonso XI cunha nova moeda de ouro equivalente a 20 maravedis de conta. |
| 1346 | Cunhado o florim aragonês à imitação do florentino. |
| 1348 | A Peste Negra inicia uma grande crise que afetará a economia e a moeda no final da Idade Média. |
| O sistema monetário castelhano na Baixa Idade Média (meados do séc. XIV até aos Reis Católicos) | |
| 1351 (Pedro I) | Introdução do real de prata com teor de 11 dinheiros e 4 grãos (~930 milésimos). Equivale a 3 maravedis; torna-se a lei castelhana de referência. |
| 1354 | Pedro I desvaloriza o circulante de vinhão para pagar tropas. |
| 1358 | Nicolás de Oresme publica De moneta, obra chave sobre teorias monetárias medievais. |
| 1368–1369 (Henrique II) | Possível autorização de censais; cunhagem de moedas de menor teor com o mesmo valor legal para financiar guerras. |
| c.1370 | Recupera-se a situação do vinhão dos tempos de Afonso XI; reais de prata valem 3 maravedis e dobras 35 maravedis. |
| 1371 | Criação da Audiência em Castela (organização administrativa vinculada a finanças e justiça). |
| 1385 (Aljubarrota) | Derrota portuguesa, crise financeira de João I: retirada de ouro e cunhagem do branco do Agnus Dei (moeda quebrada cujo valor nominal e real evoluem). |
| 1385 | Criação do Conselho Real em Castela para gerir a crise fiscal e monetária. |
| 1387 | Pragmática contra “sacadores” e facilitadores da saída de metais. |
| 1391 | Regentes de Henrique III desvalorizam fortemente o branco; aparecem novas peças (branca cinquén) e abandona-se o dinheiro de 1/10 de maravedi. |
| 1395–1415 | Escassez extraordinária de numerário na Europa e Ásia Menor; os seus efeitos perduram grande parte do séc. XV. |
| 1398–1404 (Henrique III) | Ata de navegação, extensão da alcabala; proibição de saída de mercadores terrestres e pragmática contra a saída de moeda (1404). |
| 1408 | Fundação do Banco de São Jorge em Génova (contexto financeiro internacional). |
| 1430 (João II com Álvaro de Luna) | Cunha-se a dobra da banda (ouro de menor teor, mas alto valor nominal) para equiparar o teor com reinos vizinhos e combater a saída de ouro. |
| c.1430 | Quatro casas da moeda ativas em Castela: Segóvia, Toledo, Burgos e Corunha. |
| 1435–1442 | Várias emissões de brancas de pior teor; ordenamentos para fortalecer o vinhão e recunhar moeda; flutuações do valor da dobra da banda e do real. |
| 1454–1462 | Período relativo de estabilidade sob Henrique IV. |
| 1455 | Henrique IV cunha brancas de pior teor, fixa valor comum e desvaloriza a dobra da banda que sobe a sua valorização nominal. |
| 1461–1463 | Período de otimismo e estabilidade política breve. |
| 1462–1468 | Reformas monetárias de Henrique IV (e posteriores anarquias): cunhagens de pior teor, novas peças e pragmáticas contra a saída; a partir de 1463 começa a anarquia monetária. |
| 1465–1470 | Queda do valor do maravedi e do sistema; por volta de 1470 há ~20 casas da moeda ativas e proliferação de brancas e quartos de má qualidade, com retorno ao escambo. |
| 1471 | A dobra de ouro atinge a cotação de 420 maravedis em plena crise monetária. |
| 1473 | Inicia processo lento de recuperação: enrique = 400 maravedis; dobra banda = 300; real = 30. |
| 1474–1475 | Morte de Henrique IV (1474); Isabel proclama-se rainha (1474). Real Cédula de Sevilha (1475): não emitir nova moeda de vinhão e reforçar o caráter oficial das casas da moeda; aparece o castelhano de ouro (23.75 quilates) em substituição do enrique. |
| 1479–1483 | Fernando herda Aragão (1479); medidas severas contra saque fraudulento (pena de morte para grandes saques em 1480); em 1483 a “blanca” é rebaixada para 1/4 de maravedi; o castelhano e a dobra mantêm altas cotações em maravedis. |
| A reforma de 1497 e o final do sistema monetário medieval | |
| 1493 (4 nov.) | Fernando manda cunhar o Principiat de ouro em Barcelona e Perpinhã (passos para reordenações monetárias). |
| 1497 (13 jun., Pragmática Sanção) | Reordenação culminante do sistema monetário em Castela: o ducado/excelente da granada (23.75 quilates, 375 maravedis) impõe-se como ouro base; o real melhora o teor e vale 34 maravedis; limita-se a cunhagem de brancas de menor qualidade. Este ato é considerado o abandono do sistema monetário medieval castelhano. |
| 1510 e 1513 | Fernando cria o “dobler” ou “doblenga” de vinhão. |
| 1537 (Cortes de Valladolid) | Cunham-se os primeiros múltiplos do real de prata: os reais de a oito, que se tornarão referência mundial do circulante de prata. |
| 1543 | O escudo de ouro substitui o ducado na circulação física; o ducado mantém-se como moeda de conta a 375 maravedis. |
| 1640 | Começa a prática do endosso e desconto de letras de câmbio; na Catalunha cunham-se moedas chamadas “principats” durante o levantamento. |
| 1694 | Aparecimento de cheques ou bilhetes bancários no Banco de Inglaterra (contexto financeiro moderno emergente). |
| 1718 | Os dinheiros da cruz de Aragão são abolidos por ordem real (últimos vestígios de antigos tipos locais). |
Como eram fabricadas, que símbolos tinham e o que nos dizem hoje
A cunhagem medieval combinava técnica e ritual: o disco de metal era cortado, colocado entre cunhos e golpeado com um martelo. O resultado era uma peça com lendas, efígies e marcas que serviam para:
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Identificar autoridade: bustos reais, símbolos religiosos ou lendas em latim reforçavam a legitimidade.
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Definir valor: o reverso mostrava o valor nominal ou contava com equivalências oficiais.
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Permitir auditoria: as marcas da casa da moeda e os sinais de controlo serviam para verificar origem e teor.
Nem todas as moedas eram pensadas para o mesmo uso: as peças de ouro facilitavam o comércio internacional e as reservas; as de prata cobriam transações importantes; as de vinhão e cobre alimentavam o intercâmbio quotidiano. Quando a coroa precisava de arrecadar rapidamente, emitia peças de menor teor ou aumentava a cunhagem: a desconfiança empobrecia a circulação e disparava a saída de metais.
Materiais e características: comparação técnica
| Metal | Pureza típica | Uso habitual | Vantagem |
|---|---|---|---|
| Ouro | Alto (ducados/escudos 22–24 quilates) | Reservas, comércio internacional, pagamentos a mercenários | Valor intrínseco estável e prestígio político |
| Prata | Variável (reais com teores entre 900–930 milésimos) | Pagamentos comerciais e fiscais de certa quantia | Boa divisibilidade e amplo uso em mercados |
| Vinhão (liga) | Baixa a média | Pequenas transações, moeda quotidiana | Barato de produzir em tempos de escassez de metais preciosos |
| Cobre | Baixa | Moedas muito pequenas, trocados locais | Permite emitir peças para câmbio diário |
- Ouro
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- Pureza típica: 22–24 quilates
- Uso: Comércio internacional
- Risco: Saída e exportação
- Prata
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- Pureza típica: 900–930 milésimos
- Uso: Reais e dobras
- Risco: Desvalorização por mistura
Tipos e denominações: como entender as moedas
Em Castela, como noutras entidades medievais, coexistiram múltiplas denominações: maravedis, reais, dobras, escudos, morabitinos, brancas e mais. Cada denominação podia variar em valor real segundo a conjuntura metálica e as reformas reais.
A título de guia rápido, aqui uma tabela de referência com valores aproximados em maravedis de conta segundo distintos momentos históricos:
| Moeda | Valor aproximado (maravedis de conta) | Uso |
|---|---|---|
| Morabitino | Variável (alto valor, equivalente a mencais) | Comércio com al-Andalus e reservas |
| Real | 34 maravedis (após reformas de 1497) | Unidade corrente de prata |
| Real de 8 | Múltiplo para comércio internacional | Pagamento em rotas atlânticas |
| Maravedi | Unidade de conta e moeda quotidiana (varia) | Pagamentos locais e salários |
Iconografia e marcas: ler uma moeda como um livro
As moedas são documentos breves. Um busto indica soberania; um castelo ou leão fala do reino; uma cruz lembra a proteção divina. As marcas da casa da moeda identificavam o local de cunhagem e serviam como selo de qualidade. Juntamente com elas, as lendas em latim (às vezes abreviadas) fixavam títulos reais e fórmulas de legitimação.
Saber identificar estes sinais permite rastrear a circulação, detetar imitações e contextualizar a peça historicamente.
Falsificações, manipulação e controlo: quando a moeda é alterada
A tentação de obter liquidez levou à emissão de peças de pior teor, a cortar discos mais finos ou a refazer lendas. As pragmáticas reais e as penas contra a saída de metais tentaram travar abusos; no entanto, quando o Estado teve de financiar guerras ou pagar contingentes, os cortes no teor foram comuns.
Nessa dinâmica, a confiança desmoronava-se e o escambo reaparecia nos mercados locais. A reforma de 1497 em Castela foi um marco para estabilizar o sistema e reconduzir a confiança no real e no ducado/excelente.
Produtos representativos e réplicas populares
Hoje, as réplicas permitem-nos segurar na mão a estética e os tamanhos das peças antigas sem as restrições das originais. Algumas réplicas que ilustram tipologias medievais:
A réplica de um real ou de uma peça de 8 reais oferece a sensação do relevo, o peso aproximado e a iconografia típica do reinado. São perfeitas para docentes, recreadores e colecionadores que procuram ver a proporção e o design sem manusear peças numismáticas originais.
As peças de ouro em réplica mostram como os escudos e dobras luziam em alto relevo; servem para comparar estilos iconográficos entre reinados e casas da moeda.
Denominações e exemplos práticos
Durante séculos coexistiram moedas de cobre (maravedis), prata (reais) e ouro (escudos). As denominações articulavam-se em múltiplos e submúltiplos: 1, 2, 4, 8, 16 maravedis; 1/2, 1, 2, 4, 8 reais; 1/2, 1, 2, 4, 8 escudos. Compreender estas relações facilita a leitura de contratos, contas e crónicas.
A iconografia costumava incluir lendas como HISPANIARVM REX nas peças de ouro martelado, assegurando o vínculo entre autoridade e moeda. As imagens ajudam hoje a identificar reinados e casas da moeda, bem como a entender a propaganda que acompanhava cada emissão.
Como verificar uma moeda (guia para amadores)
Se tem uma moeda antiga ou uma réplica e quer contrastá-la:
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Observe a iconografia: compare bustos, escudos e lendas com catálogos fiáveis.
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Meça diâmetro e peso: muitas peças têm medidas padrão que permitem comprovar a autenticidade ou fidelidade da réplica.
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Revise marcas da casa da moeda: identifique-as para rastrear a origem.
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Consulte especialistas: avaliadores e numismatas podem fornecer análises metalúrgicas, se necessário.
Moedas como fontes históricas: o que nos contam
Uma moeda pode revelar economia, relações comerciais, mudanças políticas e preferências estéticas. O fluxo de dinheiro mostra rotas comerciais, a presença de moeda estrangeira indica intercâmbios e o aparecimento de novas casas da moeda reflete a necessidade de controlo fiscal.
Ler moedas medievais é ler estruturas de poder. Desde os morabitinos que cruzavam o Douro até aos reais e dobrões que financiariam expedições, cada peça é uma página da história económica.
Tabelas e recursos: referências práticas
A seguir, uma tabela comparativa rápida que resume riscos e usos de cada metal na Idade Média:
| Metal | Risco principal | Uso mais frequente |
|---|---|---|
| Ouro | Saída por parte de particulares e exportação | Reservas e comércio exterior |
| Prata | Mistura com cobre, desvalorizações | Pagamento de salários e comércio regional |
| Vinhão | Desvalorização por excesso de emissão | Transações quotidianas |
Histórias e anedotas que ilustram o seu impacto
Em momentos de guerra, os tribunais cunhavam peças de pior teor para pagar exércitos; o resultado era a subida de preços e a perda de monetização nos mercados rurais. Noutros casos, a descoberta de tesouros com moedas mistas revela redes comerciais mais amplas do que aparentava um mapa político momentâneo.
Esclarecendo dúvidas acerca das moedas da Idade Média
Quais eram as principais diferenças entre as moedas de ouro e prata na Idade Média?
As principais diferenças entre as moedas de ouro e prata na Idade Média eram o seu valor intrínseco, função e uso económico.
- Valor e prestígio: As moedas de ouro tinham um valor muito mais alto por unidade devido ao maior preço do ouro, pelo que eram usadas principalmente em grandes transações, comércio internacional e como reserva de valor. Em contrapartida, as moedas de prata tinham um valor menor e circulavam mais amplamente em transações quotidianas e em economias locais.
- Função monetária: O ouro funcionava como dinheiro-mercadoria, ou seja, o seu valor dependia principalmente do seu conteúdo real em metal precioso. Devido a isso, era comum que comerciantes pesassem as moedas para verificar a sua pureza e peso reais. A prata também tinha valor intrínseco, mas o seu uso era mais frequente para pagamentos menores e circulação interna.
- Emissão e circulação: Durante a Idade Média, as moedas de prata foram mais abundantes e frequentes, apoiando o comércio local. As emissões de moedas de ouro como o florim ou o ducado surgiram especialmente no século XIII, com o auge do comércio internacional e da economia monetária mais complexa.
- Regulação e peso: Tanto o ouro como a prata seguiam padrões estritos de peso e pureza para manter a sua aceitação, mas na prática as moedas podiam ser alteradas ou deterioradas, afetando o seu valor em circulação.
Em resumo, as moedas de ouro representavam valores mais altos, eram mais escassas e usadas em comércio de maior escala, enquanto as de prata tinham um papel chave na economia quotidiana e local, ambas definidas pelo seu peso e teor metálico, mas com usos e papéis económicos diferentes.
Como a unificação monetária influenciou a economia dos reinos medievais?
A unificação monetária nos reinos medievais facilitou a estabilidade económica, melhorou o comércio interno e externo, e permitiu um maior controlo estatal sobre a emissão e circulação da moeda. Isto contribuiu para reduzir fraudes, aumentar a confiança na moeda e fortalecer o poder económico e político dos monarcas.
Mais especificamente, a unificação permitiu:
- Padronizar a moeda, o que simplificou as transações comerciais entre reinos e dentro deles, melhorando a circulação de bens e facilitando a integração económica.
- Controlar a qualidade e o conteúdo metálico da moeda, limitando a falsificação e a desvalorização, o que gerou maior confiança nas moedas oficiais.
- Centralizar a produção e emissão de moeda, que passou para as mãos do Estado ou do monarca, reduzindo a emissão baronial dispersa e aumentando as receitas reais.
- Adaptar as moedas a padrões internacionais, como a adoção do ducado de ouro veneziano em Castela, facilitando o comércio europeu e o financiamento do Estado.
- Impulsionar reformas monetárias em momentos chave, como a realizada pelos Reis Católicos, que abandonaram sistemas medievais fragmentados e estabeleceram uma moeda unificada com técnicas avançadas.
Estas ações tiveram um impacto notável na organização económica, permitindo que os estados medievais se consolidassem e pudessem financiar melhor as suas estruturas e atividades políticas e militares. Também favoreceram o desenvolvimento de redes comerciais mais amplas e a integração económica na Europa.
O que simbolizavam as marcas de cunhagem nas moedas medievais?
As marcas de cunhagem nas moedas medievais simbolizavam o local onde a moeda era cunhada, ou seja, a casa da moeda. Estas marcas serviam para identificar a origem e garantir a autenticidade e qualidade da moeda. Além disso, facilitavam a comerciantes e utilizadores reconhecer a proveniência e o valor histórico da peça. Com o tempo, também se tornaram um símbolo de prestígio e controlo oficial sobre a cunhagem.
Como as moedas medievais evoluíram ao longo do século XV?
As moedas medievais evoluíram ao longo do século XV principalmente para um aumento da cunhagem em metais menos nobres, especialmente em vinhão (liga de prata e cobre) devido à redução da prata e do ouro disponíveis. Houve múltiplas tentativas de reformas monetárias para estabilizar a moeda, incluindo a expansão da massa monetária em vinhão e a depreciação das peças, que causaram instabilidade e desvalorizações. Também se multiplicaram as casas da moeda e aumentaram as falsificações, especialmente em períodos de crise financeira e guerras civis, como a de 1465 em Castela. O ouro e a prata começaram a ser reservados para o comércio exterior, enquanto circulava principalmente moeda de vinhão para o comércio interno, embora sem conseguir a estabilidade desejada. Além disso, durante este século, surgiram problemas para manter o valor e a autoridade monetária, o que refletia a complexa dinâmica política e económica da época. No sistema castelhano, moedas como o maravedi e a dobra continuaram a ser básicas, embora com variações no seu valor e composição. Em geral, a evolução estilística e funcional da moeda refletia também uma maior presença de símbolos de poder e mudanças na cunhagem segundo a autoridade política vigente.
Que papel desempenhou o ‘excelente’ na economia medieval?
O excelente na economia medieval era uma moeda de ouro utilizada em certos reinos para facilitar o comércio e as transações, desempenhando um papel importante como meio de pagamento e referência monetária em mercados onde predominava o uso de diferentes tipos de moedas e o escambo. O seu valor e qualidade refletiam estabilidade e confiança económica, contribuindo para a circulação monetária num sistema marcado principalmente pela economia rural e feudal.
Em contexto, a economia medieval esteve baseada maioritmente na agricultura e no feudalismo, onde o dinheiro tinha um papel limitado e muitas vezes era usado em regiões ou situações específicas para pagamentos, comércio ou financiamento da coroa e funcionários. O “excelente” e outras moedas similares ajudaram nesse processo ao facilitar as transações complexas num ambiente de crescente institucionalidade e comércio, especialmente a partir do século XIII, quando aumentava a necessidade de dinheiro em circulação. No entanto, a economia monetária foi intermitente e coexistiu com sistemas baseados no escambo e na troca de bens, até que a modernidade e a expansão global reforçaram definitivamente o uso monetário.
Reflexão final e apelo à curiosidade
As moedas medievais são peças que condensam economia, política e arte. Estudiá-las permite compreender mudanças estruturais, crises e soluções institucionais que configuraram a transição para sistemas monetários modernos. Se o seu mundo o atrai, observe as marcas, compare medidas e consulte catálogos: cada peça tem uma história à espera de ser lida.
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